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O quadro

O quadro
Helio Valim
Dec. 30 - 2 min read
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Um quadro, o retrato de uma era, de um instante perdido, esquecido na memória de dedicado pintor, onde cada pincelada guarda delicadas emoções, sensações profundas, eternizadas sobre tela de refinado linho e, agora, envelhecido pelo tempo.

Preservada, em cores e tintas de outros tempos, a cena bucólica de um momento da rotina de bela e pacata comunidade. Um campo em plena primavera, colorido com as flores da estação, o sol se pondo entre as colinas no horizonte, envolto em nuvens cálidas. No plano principal um córrego correndo preguiçoso em seu leito rochoso.

Compondo com a paisagem, jovem casal trocando longas carícias, beijos e afagos, acentuados pelo carmim das tintas e pela intensidade dos traços. Desmedida paixão imortalizada em arte.

O tempo passou, o casal viveu o seu eterno amor, construiu sua vida em torno daquele lugar, viveu dias de alegrias e tristezas. A terra foi adquirida pela especulação e pela ganância exaurida e abandonada. Como parte de uma dívida foi incorporada à “massa falida”, por um banco.

A propriedade, além das terras, incluía um pequeno chalé, construído próximo ao córrego, agora abandonado, parte do cenário da bela paixão que perdurou por toda a vida daquele casal. Nele, além de móveis e lembranças, o quadro descansava, sobre a lareira, apesar de empoeirado, preservando a imagem daquele momento.

A propriedade foi a leilão, sendo arrematada em um lance vão. Então a incerteza pairou sobre o final dessa história de amor tão perene. O que aconteceria com o riacho, com a terra, com o chalé... O quadro... A história...

Um mês se passou... Um veículo atravessa a porteira. Descem duas pessoas... Os novos proprietários.

Uma nova história começa...

Os proprietários, um jovem casal de agrônomos, apaixonados, amantes da natureza, recuperam a propriedade: o solo usando insumos orgânicos, o córrego protegendo suas nascentes com vegetação nativa. Implantam métodos artesanais de irrigação e plantio, produzem e colhem sua primeira safra orgânica, que vendem à comunidade local.

Restauram o chalé e os móveis, onde passam a viver, inspirados pelo quadro dos eternos apaixonados.

Hoje, ao entardecer de qualquer primavera, os jovens proprietários podem ser vistos, trocando beijos apaixonados, observando o pôr do sol, entre as colinas distantes, embalados pela suave melodia, daquele córrego preguiçoso.

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