Meu rumo

Anseio por um taco de chão
Pra sair cedinho
com a desculpa 
de pegar ovos fresquinhos
Só pra respirar o nascer do sol
Pra plantar goiabas 
brancas e vermelhas
Pra tomar banho-pipoca
de mangueira
E sentir o cheiro
da chuva na roseira
E brincar com a brisa
que dança com o varal
e abana as sianinhas
das saias das meninas
A ponta da orelha enfeitada
Com flor matizada
Andar descalço no capim
e romper as cascas de mim 
Arrancando carrapichos
do pé à cabeça
Matar a pulga atrás da orelha
Sentar numa pedra larga
Acariciar os pés na água
Pedir a benção do rio
pra se achegar
Calar e escutar o rio
Mergulhar em mim
Saborear o desfecho do dia
Girar a ciranda tardia
dos pássaros do arrebol
Hipnotizar-se
com o singelo e sutil espetáculo
da despedida do sol
Voltar apressado
com a desculpa do tempo
pra esconder o medo
dos ruídos da noite
que repercutem no peito
E ao pisar na soleira
suspirar seguro
Quero um taco de chão
Pra dar à vida um rumo