De repente tudo mudou
O que parecia tão distante, começou a se aproximar
E não houve mais uma maneira de não aceitar.
A vida decidiu nos mostrar a nossa pequenez
Baixou a nossa guarda, a nossa ilusão de poder e superioridade
Baixou a nossa imunidade, para elevar os nossos olhos para a humanidade
Tanta gente sem ser vista, tantas coisas passando despercebidas
O céu, o nosso tempo, os nossos filhos, implorando atenção
Nossa alma ansiosa por ter mais, sem ao menos saber o que se queria.
Nosso corpo, tão mecanicamente se movimentando em um ir e vir incessante
Esgotando-se nos dias que se iam, sem serem vividos
Fomos obrigados a parar, desacelerar, pensar, se acolher e abraçar
Um abraço sem ser dado, abraço distante, em forma de proteção
Quantos abraços foram perdidos?
Quantas horas da nossa existência se passaram em busca do nada?
Quantas visitas inesperadas aos nossos amigos, deixamos de fazer?
Quantos beijos em nossos pais deixamos de dar?
Quantas vezes, com nossos filhos, deixamos de brincar?
De repente o mundo não é mais o mesmo.
O que parecia valioso, não importa mais.
O que era invisível, virou o essencial.
Foi preciso muita dor e despedidas
Para dar um freio em nossas vidas, carregadas de valores equivocados.
Foi preciso ter medo para entender, que viver não é só trabalhar, comer
Dormir, correr, sem ver, que para tudo existe um fim
Agora estamos presos, para enxergar a liberdade
Estamos seguros em nossa própria prisão, enquanto outros, sem teto, não.
Foi preciso ver muitos morrerem, para compreender o sentido da vida
E quando tudo isso passar, meu sonho é que todos estejam mais solidários
Mais humanos, revividos, conscientes, evoluídos
E que tudo volte ao normal, mas de maneira diferente
Onde realmente poderemos olhar o Universo com gratidão e viver
Viver plenamente.
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