Ela veste-se depressa
Pega os sapatos, deixa cair o batom
Nem vê que o documento ficou na escrivaninha
Pega uma roupa qualquer
Calça jeans, casaco e sapato fechado
Sai correndo
Ela aperta o botão rápido
Frenética são as batidas do coração
Finalmente o barulho do elevador
As portas se abrem e ela para
Olha pra dentro
Engole seco
E entra
No ambiente fechado
Três caras encostados
Ela olha pra baixo
Sente-se nua como a vinte minutos
Observada
Os segundos até o térreo se arrastam
Cada um parece ser um infinito
E ela tenta não se mexer
A respiração funda
Controlada
Imóvel
Lembra que nunca acreditou em muita coisa
Nem teve alguma religião
Mas lembra de quando aconteceu
Quando rezou pela primeira vez
Engole seco
A garganta parece cheia de espinhos
Os olhos ficaram turvos
Nem lembra mais como respirar
Pede pra quem ouvir
Que os segundos logo passem
Que as portas se abram
E ela possa correr
Ou ao menos se mover
Que se isso não acontecer
E o elevador parar ali
Que os cabos de sustentação se rompam
E que ela ao menos tenha uma rápida morte
O coração acelerado
A respiração pesada
Os olhos cheios de lágrimas
O barulho chegou ao seus ouvidos
As portas do elevador se abriram
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