Traga-me uma taça de vinho
Ou melhor, traga-me duas
Uma para mim, outra para a solidão que há tanto me acompanha
Entardeci lendo Pessoa
E ouvindo Belchior
E descobri o véu
que me cobria os olhos
E pisei o chão com pés reais
Feitos de carne
E nada mais
Compreendi que é um grande mistério esse de não haver mistério algum
E há metafísica tanta
em dizer estas coisas
Dizer assim como se diz
Sem que o pensamento borre
a palavra
Traga-me uma taça de vinho
E beba comigo
A tarde está morna e preciso me lembrar de que estou vivo
Vamos beber
e quando não houver mais vinho que beber,
vamos nos matar
ou ler uma poesia de Vinicius
Vou dizer-lhe o que desejava realmente:
Livrar-me deste corpo
Desta carne que não sou eu
E assim, livre e desnudo de mim,
Subir ao infinto sem nome
Escrever na face de deus
Um verso de algum poema meu
E ser para sempre o único poeta que morreu entre as estrelas...
Não, não leve a sério o que digo
Que os poetas e filósofos são todos uns doentes.
Traga-me apenas mais um vinho
E também um cigarro
Para que eu possa encher este corpo de melancolia
E fingir que já não penso
Nos vermes que me aguardam.
#Poesia #Concurso #EternizArte