O pior sentimento que você me proporciona
é a indiferença.
É indiferente pra você saber como estou,
como foi meu dia,
ou como adormeci na noite passada.
É indiferente eu ser um mónologo
ou ser todas as palavras.
A pior sensação que alguém pode lhe ofertar
é o desprezo.
O nojo em não se encaixar em nenhum outro local.
Ser rejeitado e escarrado da sua solente sarjeta.
A sua indiferença de saber se vou ou não chegar em casa.
A indiferença de não se sentir importante em nada.
Eu queria poder fazer o mesmo;
assim não seria tão difícil de ser
imprudente e descontrolado
a ponto de nunca lhe dizer
o que eu fui pra você.
O telefone nunca toca.
Perco o foco nos meus afazeres.
Troco os talheres, limpo a mesa, enxugo a pia;
e a cidade ainda chora continuando vazia.
É indiferente meu mundo parar
para o seu, enfim, passar.
É indiferente todas as noites deixarem de ser quem são;
pra poder se despir
e desaparecer no tempo que não vai.
Desaparecer no que se esvai.
Desparecer completamente do seu eixo existencial,
dando um último afago como um suspiro.
E, assim, lentamente, ser deixado pra morrer
entre uma linha de indiferença e esquecimento pleno.
No qual, nenhum poema mais faça efeito.
No qual, me deito e me torno um objeto em seu imenso azulejo.
Valorize quem quer te cuidar.
Amanhã eu posso desistir de tentar.
Amanhã eu posso.
É indi(fere)nte
você saber se irei morrer,
ou respirar.
Amanhã eu posso.
@hudsonhenriquer em Últimos poemas.
Um quadro de minha existência mostraria uma inútil estaca de madeira coberta de neve, cravada, numa escura noite de inverno, inclinada e sem muita firmeza, num campo lavrado à beira de uma imensa planície.
- Kafka.