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Sombra, meu gato

Sombra, meu gato
Francielly Moraes
Jul. 31 - 2 min read
010


Antes de conhecer o gato 
Há que se conhecer o dono:


Sobre mim
O que importa 

É que perco a cabeça

Por isso, tenho perfeito juízo 

Minhas palavras facas cortam  clavículas 
 
 
 Desenho anjos e manjares com os lábios
 
 Enlouqueço 
de tão sã


Leio pouco

Todos da estante


Há algo gélido  na minha alma hoje quente


Fiz batatas fritas, está na frigideira


Não cozinho, a marmita está a mesa


Arroto chique nos barzinhos 


Falo de blues, redondinhas menores e coisas mais 


Em casa, rasgo frango nas mãos 


Assisto novelas patéticas 


Assisto a telejornais 


Leio periódicos

(periodicamente)


Separei
Agora junto 
Minha alma em outra alma 
Ele disse quero filhos 

"Eu não quero ter bebês"
"Quero um gato'

Separei 

Estou sozinha

Eu me Basto 

Quero o outro 

Deprimida de  contente

Angústia de ter saúde  

(Que não é sinônimo de sonho)

Separei

Junto de novo 
Agora de mim

Separei 

Junto de novo
Agora com um gato que achei perdido no lixo das manhãs 

Ele foi embora

Chegou outro gato 

Que foi embora 

E deixou dez gatinhos 

Que dei pra doação, nove.

Fiquei com um
Mirradinho
Lia Cecília pra ele
Ele gostava
(ou então fingia)

Roçava por entre os dedos frios escondidos na meia 
 
O nome dele era Sombra
Me seguia, o desgraçado
Na padaria, no mercado 
Aonde quer que eu fosse 
Seja no bar onde eu era chique 
Ou em casa com dedos cheirando a fritura 

Ele comia o que eu comia 
Sentia fome se eu sentia
Na verdade, não sentia 
Porque ele sabe se virar

As vezes me trazia uns ratos com olhos 
De porque me matares?

As vezes eu comia
Outras, não.

Sombra, vem!

Fiz um afago
Ele dormiu 

Acendi a luz 

 não voltou mais ..

Quando eu apaguei  
Imaginei seu corpinho roçando  por entre os dedos frios escondidos na meia 
Ele vinha ouvir minha voz recitando Cecília.
 


 
 


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