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sobre mim

sobre mim
monalisa eugênia
Feb. 3 - 3 min read
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não é sobre ela. nunca foi. sempre foi por mim, para mim e de mim. tudo é sobre as micro experiências que eu posso ter, com ela, sem ela. pela metade, por inteiro. eu tenho preferência que seja com pouca roupa, ou com uma fácil de tirar.
tudo está aqui na minha cabeça, cada ponto, imagem, suspiro, cheiro...
na cena tem cigarros, uma mesa desarrumada, uma cama grande e duas mulheres com muito desejo. elas se olham profundamente. tanto que se olhar arrancasse pedaço, uma se juntaria na outra.
além das coisas visíveis, tem aquelas que nós percebemos com o corpo. por exemplo, tem um aroma forte e, ao mesmo tempo, delicado. com certeza algo frutado e cítrico. seu eu não estiver enganada o cheiro amadeirado é da madeira dos móveis, relíquias. 
isso parece impossível, mas ela se comporta tranquilamente como se não estaria, minutos depois, perdendo o controle total da sua respiração. 
outra coisa que tem na cena é a gargalhada de ambas: um volume alterado que demonstra  que a piada, ou sei lá o que foi dito, é engraçado.
com o toque eu posso sentir cada minúscula parte. eu toco devagar, e com cada esbarro mínimo, ela se arrepia. 
os cabelos se misturam ao longo do envolvimento. é um beijo de boas vindas. molhado, com gosto de vinho e leve toque de cigarro. devo dizer que é o meu beijo preferido. 
elas se permitem viver aquilo.durante algumas horas, a realidade se reduziu e se tornou aquele quarto, uma tem a outra, e basta! as chamas das velas acessas balançam. a janela está fechada, mas todo o movimento provoca uma brisa. vento. 
os olhos não demostram vergonha, demonstram desejo, fome e vontade de dominar a situação. mas, ao mesmo tempo, os olhos demonstram uma submissão. uma pela outra e vice-versa. elas se dominam e são dominadas. duas mulheres que sabem o que querem. não é sobre ela. é sobre mim. sim, é sobre o respeito que tenho com meus desejos. não me sinto culpada, me sinto viva. 
é pecado? não me importo. se for julgar assim, eu peco desde que nasci.
e tem mais, eu que mordi o fruto proibido; não tinha Adão, eu não era Eva. eram duas mulheres que rasgaram suas identidades; se jogaram no campo perigoso das sensações. foi eu que mordi o fruto primeiro. ao contrário do que muitos acreditam, não era uma maçã. era uma ameixa bem madura, suculenta e com um cheiro viciante. eu mordi, me lambuzei. 
não é sobre ela.
tudo é sobre mim.


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