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Saudade

Saudade
Luciano R. Martins
May. 5 - 1 min read
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Saudade.

 

Bicho estranho

que aperta,

caçando fissuras

para trincar,

desarrumando gavetas

que se supunham fechadas,

arrumando intrigas

para frustrar.

 

Saudade.

 

Não tem parâmetro

para encaixar,

não tem caixa

para guardar,

não há simetria

nessa enrolação.

Apenas paradoxo

e contramão.

 

Saudade é bicho estranho.

Saudade não tem pena,

nem pele, nem redenção.

 

Saudade arrisca delinquir,

violentar,

arrisca ser

o que esteve sempre aqui,

arrisca o pescoço

e esse ar.

 

Saudade cobra

a fatura do mês,

os juros das horas,

as horas de um beijo.

 

O tempo arrisca confrontar,

mas a saudade

vem de longe buscar

as fotografias

mal tiradas,

a memória senil,

os cômodos

em reboco,

e os recados ainda afixados

em ímã de geladeira.

 

A saudade,

por fim,

é cruel:

diz o que eu não sabia dizer.

Diz que ainda

há amor nesses cômodos,

nessas fotos ridículas,

na caligrafia horrenda

deste bilhete pueril.

 

Sim, eu ainda amo,

e sinto a sua falta

como da primeira vez,

da segunda, terceira...

até da última

em que você partiu.

 

Ainda te amo

e tanto...

 

(MARTINS, Luciano R.. Sexta, 31 de janeiro de 2020.)

 

 

 

 


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