Mesmo que eu estivesse na praia dos anjos,
Que navegasse em ondas remotas
Ou vestisse a carapuça dos magos,
Eu nada seria sem o amor dos homens.
Se minha rendição trouxesse a paz,
Se eu pudesse estabelecer a conexão
Entre o mundo e a voz,
Se pudesse criar a verdadeira comunhão,
Ainda andaria atrás de um nome.
Se eu soubesse de onde venho,
A quem eu sirvo,
A que me presto
Ou mesmo se sou o resto de um todo,
Estaria entre as partes do vazio.
Eu poderia criar o semblante daquela estátua,
Poderia lhe dar a cor rubra do sangue,
Poderia entalhar olhos azuis,
Lapidar os braços mais fortes,
Dar-lhe dentes para sorrir,
Pernas para correr nas trincheiras,
Ainda assim seria pedra.
O mesmo na tela.
Onde a nuance segue à esmo,
No ritmo inconstante
De um céu que muda a todo instante
Em consequência dos ventos bravios
Que trazem chuva e frio,
Pincéis descarnados de alma.
A calma do mundo não depende de mim.
Mesmo que entre as trombetas
Meu canto ainda se ouça,
Peço aos surdos que me convençam
A manter contato com os deuses
Na esperança que desça dos céus
O véu que cobrirá a terra
Na incólume tentativa da morte,
De romper com a sorte do tal destino.
Ileso da visão do medo,
Peço que as cruzes que se pregam em meus passos
Apontem para o chão,
Lugar que me deito de braços abertos.
Ainda que eu grite
Degolando as artérias em aflição,
Sem o amor dos homens
Encontrarão sangue
Nas linhas das minhas mãos.
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