Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
BACK

PREFIRO TOMAR PEQUENAS DOSES DE VENENO

Katia Limma
Mar. 6 - 4 min read
030

(texto integral)

Pensamentos vêm e vão, principalmente,  daqueles de que não gostamos e que nos trazem alguns momentos de infelicidade.

Fico pensando em tantas coisas das quais gosto e nem dou valor.  Apenas gosto, sem merecer maior atenção  da minha parte.

Parto do princípio de que gosto e isso é suficiente para estar em minha vida. Quando se trata de pessoas,  não basta tê-las em minha vida; tenho que demonstrar de que gosto delas. Tenho dificuldade para isso.

Sou capaz de tomar pequenas doses de veneno;

De remédios amargos;

Engolir cápsulas que engasgam na garganta;

Fumar cigarros sem filtro que deixam um gosto amargo na boca e dificulta a respiração;

Saltar de paraquedas;

Abrir os braços no alto de um terraço.

Das coisas amargas e perigosas da vida, por elas me encanto.

Agora quando se trata de falar de sentimentos,  a dificuldade aparece porque preciso demonstrar e nem sempre estou disposta a isso.

‘Nem sempre estou disposta’, talvez não seja a expressão correta, mas o demonstrar puro e simples não pode ser através do “passar a mão na cabeça  e dizer “ eu te amo" e virar as costas. Tem que ir além do tratamento canino, tem que ser demonstrado.

Minha dificuldade em demonstrar de que eu gosto muitas vezes me faz perder pessoas  e isso não dá para recuperar de uma hora para outra.

Parece simples, para alguns, mas para mim não é.  Se tivesse uma fórmula com certeza a usaria, porque quero que a outra pessoa saiba de que lhe gosto muito,  mas as palavras não saem e os atos ficam presos ao corpo. Então,  ponho tudo a perder.

Quando se é criança, dar uma bala, um bombom já significava de alguma forma que havia ali um sentimento maior que a amizade, já estava implícito. Infantil, sem pensamentos  maldosos.

Hoje, como adulta, só um bombom não significa nada. É apenas um bombom, e dependendo da pessoa, não será nem comido com a desculpa de que “não gosto de doces". Por medo de ser repelida, eu abaixo a cabeça e não enfrento os meus sentimentos.

Para que me torturar?

Por que seria obrigada a ser o que não quero? não quero ser simplesmente igual a toda gente, mas também não quero ser diferente.

Quero ser eu mesma com todas as minhas inseguranças, medos e sem enfrentamentos dos quais não poderei lidar.

Acho que só sei amar pela metade. Não me façam ser quem não sou.

Quero voar, mas não vou pular de um prédio.  O que quero nem sempre é possível.

Só quero ser eu mesma, demonstrando de maneira que eu posso e aos poucos serei capaz de me doar e a partir de pequenos atos, sejam de amor ou de amizade, com certeza não serei a mesma para sempre.

Suporto as pequenas doses de veneno;

O barulho alto das festas heavy;

As drogas mais lícitas;

As ideias mais enlouquecidas das quais eu possa ter;

Até fórmulas complexas para decifrar... posso ser tantas, mas me prendo em apenas uma: a que deveria amar e não sabe como.

Não me venham com palavras de que “tudo é possível “; “ não é tão difícil assim" e outras.

Quero voar, mas não tenho asas. Estou presa a sentimentos, estou presa a demonstração de afetos.

Quero o ar puro do terraço,  a imensidão do espaço e a liberdade de ser eu mesma.

 


Report publication
    030

    Recomended for you