Por que Maria?
Não atendeu ao despertar do relógio
e nem levantou àquelas horas
da aurora.
Não apagou a luz do corredor.
Não colocou a água para ferver
e nem se fez sentir o aroma do café
pelos cômodos da casa.
Não arrumou a mesa matinal.
Não folheou a revista
e nem compartilhou as manchetes
do jornal.
Por que Maria?
Não passou as roupas
e nem ajeitou os lençóis da cama.
Não abriu janelas. Não abriu portas.
Não se trocou e nem se arrumou.
Não tirou as maquiagens da bolsa
e sequer deu bom dia ao espelho.
Não se despediu dos filhos, marido...
Também não os avisou.
Não disse o amém de joelhos.
Não beijou. Não se deitou.
Não amou.
Por que Maria?
Não quis pegar o ônibus, o metrô...
Esquivou-se das notícias,
das pessoas, das filas.
Não olhou para as boutiques
e nem paquerou suas vitrines.
Não viu chefe, patrão, emprego.
Também não recebeu por isso
e não se importou.
Não falou sim senhor, nem doutor.
Não teve que calar, chorar
e nem aturou.
Por que Maria?
Não circulou o seu ritmo, sua gana,
sua garra no dia de hoje.
Não chamou aos que aguardam
por sua voz, por sua ordem.
Maria, por quê?
Não se irou. Não sorriu.
Não mandou e nem obedeceu
a nada Maria.
Não desfilou o seu divino dom
de amar, de criar... de dominar
com toda sabedoria.
Por que Maria?
Não viu o dia nem a noite passar.
Não acalentou e nem gritou.
Não lavou. Não cozinhou.
Não preparou nem o jantar.
Maria, por quê?
Não ligou para as louças,
para o chão, para as coisas do lar.
Ignorou totalmente o cotidiano.
Mas não havia se esquecido.
Apenas apagou do calendário
este dia do ano.
É Maria, por quê?...
E porque neste dia não fizeste
uma pequena fração do que
és capaz e faz todos os dias Maria,
a cidade não amanheceu.
O país afundou-se.
Sem a sua fé e fibra, o mundo hoje
parou e sucumbiu-se.
Não teve vida e nem alegria.
Porque sem você hoje Maria,
o ano teve um dia a menos
de história, economia e magia.
(A todas as mulheres, anônimas ou não,
que no dia-a-dia com suas inerentes sapiências e forças,
tornam-se a engrenagem principal que faz girar uma grande nação.).
#Poesia #Concurso #EternizArte