Falam que poetas não devem escrever sobre coisas do dia a dia.
Dizem que as letras devem ser exemplos de vida,
Que a rotina é coisa para os mortais.
Como se poetas não sentissem no físico
A mesma dor dos transeuntes das grandes avenidas.
Como se fosse diferente o tecido das roupas que eles usam,
Ou mesmo que o mar fala somente aos ouvidos românticos
De quem conhece as ondas dos versos.
Os poetas comem pão com os mesmos dentes
Que xingam os vizinhos do andar de cima.
Pagam contas em bancos eletrônicos
E também eletrônicos os teclados em que navegam
Vendendo suas almas em livrarias virtuais.
Poetas não sabem mais que os mendigos
Ou os meninos pedintes das ruas
Tão vazias e repletas da dor de serem humanos.
O saneamento passa perto da casa onde ele habita,
Os ratos também visitam seus porões.
Os jornais de domingo não lhe interessam,
Não porque eles saibam mais que os outros,
Mas porque é caro.
As portas onde o poeta mora são mal pintadas
E seu sofá está rasgado na almofada direita.
Há uma trinca na lente dos óculos,
Bem por onde o olho enxerga.
Passatempo de poeta é procurar emprego,
O emprego das letras não lhe provém de recursos.
Na mão do poeta, calos somente no dedo indicador
De tanto apontar para estrelas que não existem
Quando o álcool sublima sua capacidade de pensar.
O verbo amar está em segundo plano em seus planos futuros.
Atrás do muro do poeta se esconde um corpo tristonho
Em que o sonho atravessa como flecha
E fecha os portais da esperança
Não deixando sequer a lembrança de dias melhores.
Piores os momentos, ventos e chuvas encharcam os ossos
Deixando somente uma coisa na mente,
Como será o seu amanhã?
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