Odeio a morte
a morte não é amiga
não te visita à toa
interesseira
vem a mando ou desavisada
mas aqui onde eu moro
vem de tiro e de porrada
ou de doença ou falta de água
se ela visita a tua casa
pode ser que ninguém resista
porque aqui não tem parede
não tem água encanada
ou álcool em gel
aqui a morte vem da bala
ao ritmo do batidão
ou com a visita do caveirão
e se você quiser sair pra ganhar uns trocados
não vai não
porque a morte te espera ali também
não tem lugar seguro
nem dentro nem fora do barraco
e se teu filho chora
querendo comida
e o presidente fala vai pra fila
la a morte te espera também
então morena
não vai não
não assim de sopetão
primeiro arruma as malas
depois pega o banco
senta e espera, na espreita, encara de frente
e não adianta rezar também
porque se Deus te ouvir
vai ter que te dar o que tu sempre pediu
pra todo este inferno acabar
e se a tua própria mãe desistir
e resolver chamar pra visitar
tão ilustre senhora
pega na mão dela
levanta ela daquele sofá
veste um vestido
e vem sambar
sambar na cara da morte
porque não vai ser político corrupto
não vai ser pastor mentiroso
e nem mesmo os caras da milícia
que virão te salvar
quem vai te salvar lá no fim
é tu mesma
então
levanta e vai