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O Farol.

O Farol.
Hudson Henrique.
Jun. 29 - 3 min read
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O farol pra mim está distante.
Igual os navios que o veem e não podem tocar,
ficando cada vez mais distante da luz,
até desaparecer poentemente ao horizonte alaranjado.

O farol é uma palavra forte.
Igual saudades, ódio, igual amor.
Fugi do farol, 
mas ele não fugiu de mim.

Tão alto, 
mas tão intocável.
Tão belo, 
mas tão enigmático.
Ainda acho que há algo dentro daquelas escadarias,
algo que faz as coisas acabarem.
Ou eu que fui criança de mais pra acreditar em algo que não existia?

As portas de aço se abrirão um dia
e um garoto vai entrar,
irá ver todas aquelas cadeiras vazias, 
todos aqueles sonhos deixados pra trás.
E desde então nunca mais vai ser o mesmo.

O amor acaba com as pessoas certas
mexendo com o lugar mais errado.
Lá dentro está enterrado 
a sua última frase indagada, 
que não me lembro da tal exata,
mas lembro do cheiro das palavras, 
como saíram amargas e profundas,
como soaram feito um sino velho. 
Lembro também de como era macio suas mãos,
eu era o mais veloz quando te levava correndo
pra longe da escuridão.
Tenho medo de sonhar com aqueles tempos
e acordar me lembrando dos motivos que eu cresci.

Oh, onde está você?
Por que se esqueceu de mim? 
Por que não me procurou?
Meu nome não está em todos os lugares,
será por isso você não o guardou? 
Ou será que não importa saber onde estou?
Farol,
acenda a noite e ilumina o caminho que andas.
Clareia o pedaço de chão que pisas,
faz dessa luz uma guia pra você me encontrar um dia.

Farol,
por favor não esqueças que o homem te acende
e que o botão lhe desperta de madrugada.
Pomares abrem os olhos quando todas as maçãs podres caem.

Na verdade, nunca te vi funcionando, 
nem vou ver.
Aquele lugar me assombra e não posso regredir,
não quero olhar pra trás, não quero olhar pra trás.
Porque sei que vou abandonar meu futuro, 
porque sei que vou lembrar de tudo que passou, 
e não posso voltar,
não posso voltar da onde vim. 

O caminho sem volta nos torna fracos,
sem perspectivas e cansados.

Sinceramente espero que esteja bem.
E seja lá onde estiver,
saiba que pode me encontrar naquele velho farol,
em cima daquele antigo chão de concreto
do qual eu estive sentado alguns anos atrás.

Ao cais que o marinheiro encontra o porto,
se eu não estivesse com tanto sono
saberia que rumo tomar,
mas como sempre sou imprudente e irresponsável pra falar que: nunca superei.
Eu nunca.

Sei que não vou olhar aquelas fotos,
sei também que estou mentindo pra mim mesmo.

Aquele velho galo de metal, no topo vermelho sangue, 
às vezes gira no sentido do teu sopro.
Mostrando que lado você foi
e virou as costas pra nunca mais voltar.

Pra nunca mais voltar.

Ainda que não possa tocar as alturas,
que ao menos seja tão pura
quanto um anjo planando nas planícies
mais geladas desse verão.
Ainda que eu não possa ser
tudo o que um dia você me falou,
tento permanecer calado,
fingindo ser de plástico
pra não absorver tanta dor.

Farol, 
por favor ache,
porque eu sei que você vê o horizonte aí do alto.
Você vê a linha que cruza os mares.
Quem sabe veja o telhado daquela casa
e cada gota d'água que toca e molha.

O orvalho nunca esteve tão rápido
como no canto dos teus olhos a escorrer.


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