Plantei uma dor dentro do meu peito apertado
Assim, bem escondida como em um choro coibido
Eu sei que um sentimento desses nem deveria ser cultivado
Pois é algo tão inútil que não carece ser concebido
Nem me dei conta e quando vi, já tinha brotado
Ela era tão miudinha que não achei que iria machucar
Mas a danada fincou no solo e lá criou morada
E esse aperto que escorre nos olhos me faz dela lembrar
Chegou uma hora que esse aperreio fez em mim um roçado
Me curvou os ombros, cerrou os olhos e deu um nó na garganta
Agora me fecho de vez pela então voz do silêncio
E, nesse momento, morre qualquer fio de esperança
Mas me diga, se são tantos os apegos que habitam em mim
Porque tenho que me abraçar a um sentimentozinho só?
Prosperem logo em mim, euforia e contentamento
E desatem de uma vez do meu corpo esse bendito nó
Foi então que percebi que essas estradas em mim são longas
E existem muitas pontes tortuosas e injustas para se cruzar
A dor veio primeiro, foi ligeira e se espalhou depressa
Mas o contentamento, as vezes pode ser vagaroso pra danar
Enquanto suporto meu encontro com a solidão
Espero chegar a finda hora dessa dor cansar
A danada é tinhosa e insistente, isso eu bem sei
Mas como as que vieram antes, ela também vai se retirar
Já tive dor de saudade, dor de tristeza
Claro, a bendita dor da paixão
Dor também de angústia, dor de desespero
Dor até de alegria. Oxe, e num pode não?
Todas vieram e foram, sem dizer oi ou mesmo até logo
Só que dessa vez ela brotou mansinho, na ponta do pé
Acho que vou chamar ela de dor do medo
Daquilo que a gente ainda não sabe o que é
Essa dor que sinto está na espera do que não vejo
É um medo revelado em um desalento sem tamanho
Uma agonia arretada e sem rumo no labirinto do sonho
Sonho de tentar me olhar, mas só enxergar um estranho
Em cada passo me distancio daquele que um dia fui
E a dor que sinto é o medo do que vem a seguir
Ou de talvez ter deixado tanto para trás
Aquele meu eu que hoje me faria sorrir
Mas a gente não volta no tempo e nem caminha para trás
E a cada remorso e desconsolo, a dor se arrasta mais um tiquinho
Então como eu saio dessa peleja e termino essa agonia sem fim?
O jeito é um só: deixa a dor falar. Prosei que vou escutar tudinho
Pois agora me escute e entenda bem o meu conselho
A vida lhe faz sorrir e lhe faz chorar, lhe presenteia, mas também cobra
Lembre que quando alguém se alegra com uma chegada
Tem um outro chorando por quem foi embora
Ninguém é um só e pro seu desespero existe um alívio
Quando se encontra o perdão, vai se embora a acusação
No instante em que nasce o simples, se exclui o exagero
E para o fim da intolerância existe também a compaixão
Se a minha vinda lhe causa angústia e faz ter medo
Crie em você novos caminhos e se permita sentir
Nenhum equilíbrio nasce sem o destempero
E será na minha despedida que chegará um novo existir
Eu não parei de ter medo, mas a dor em mim sossegou
Foi num instante de silêncio que reparei na voz que tanto me falou
A dor é sábia como mar e nos transborda de vivências
E letrada como vida, que no seu rigor, nos ensina a ter paciência
Saber escutar é a cura para tudo o que faz doer
Então pare de crer que já se tem todas as respostas
E ouça o que a vida em forma de prosa lhe diz
Às vezes é preciso chorar para saber que é feliz