Eu tinha quatro anos quando entendi qual era a dor da morte
Lembro como se fosse ontem de papai em prantos com o pano-de-prato no ombro
Lembro-me de ter abraçado o corpo dele enquanto ele tentava ser forte
Desde então todos os natais viraram um específico assombro
As palavras do meu tio ao telefone espalharam dor por cada canto da minha existência
Mamãe só estava indo ao mercado comprar ervilhas para sua empanada
Deus, para minha mãe o Senhor não poderia ter um pouco mais de clemencia?
Por que não impediu que aquele carro batesse nela que apenas andava na calçada?
Naquela noite papai me colocou na cama
Nenhum de nós dois conseguiu os olhos pregar
E eu acabei indo para sala com minha boneca preferida: Dama
E do feixe debaixo da porta principal não consegui impedir o frio de entrar
“Filha o que você tá fazendo aí ao lado da porta?”
“Papai, estou esperando a mamãe voltar”
Os olhos dele se romperam em lágrimas e ele já não conseguia fechar a comporta
“Vamos pedir a Deus para a mamãe de presente ele nos dar?”
Mamãe sempre me disse que Deus era mais forte que o Papai Noel
Então na minha mais pura inocência eu juntei as minhas mãozinha em oração
“Filha, Deus não pode devolver a mamãe agora, ela já está ao lado dele no céu”
“Mas eu prometo, Deus, que se me der ela de volta ao Senhor eu ofereço total dedicação”
Papai me segurou em seus trêmulos braços
E ali eu senti o mais amargo sabor de uma sensação penosa específica
Papai continua ao meu lado me abraçando em todos os meus passos
Mas a dor de perder minha mãe não se curou, a falta dela só se intensifica
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