Me apoio no beiral, vejo o horizonte.
A janela me serve como ponte,
Me mostra a paisagem pura e bela.
O vento que sopra, a luz que ilumina,
Me parecem teu jeito de menina
Invadindo o meu ser pela janela.
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Foco em ti, e meu foco me agradece.
Já havia implorado e feito prece
P'ra que eu te desse um pouco de atenção.
Provocas os meus olhos de tal jeito
Que inflama-os, e esta chama cai ao peito
Como um raio que, atroz, flagela o chão.
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Acendo um cigarro, solto a fumaça.
Assisto à multidão que vem e passa:
Não entendo a razão de tanta pressa.
Não te ouvem, não te cheiram, não te leem,
Não te conhecem, nem sequer te veem.
De toda esta avidez a causa é essa.
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Quem te conhece te dedica o tempo.
Te vejo, te analiso, te contemplo.
Toda a vida para ao teu redor.
As aves calam p'ra te ouvir o canto.
A chuva cessa p'ra te ver o pranto.
O Sol desponta p'ra te ver em flor.
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Te emoldura, a janela, feito um quadro.
Eu te vejo, cercada de um quadrado,
Com tua face, teus olhos, tua boca.
Viras e não me vês, teu olhar me passa.
"Não há nada do outro lado da vidraça".
É como se esta sala estivesse oca.
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O vidro se me dá como anteparo.
Estampa teu sorriso simples, raro,
Com a espontaneidade de pintura.
Pisco, e o momento grava em minha mente.
Posso, assim, revivê-lo eternamente,
E o instante-maravilha se perdura.
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Em cada vão que trespassa um objeto
Te vejo, te imagino, te projeto.
Trejeito involuntário de tortura.
Como tela tenho eu, pois, o tal furo.
O pincel é a própria mão de deus (juro!).
E o restante do objeto é a moldura.
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Das janelas dos ônibus que pego,
Com a inexpressividade de um cego,
Vejo tudo, mas nada me comove.
Só penso em ti enquanto o povo tagarela.
Teus traços vejo, impressos, na janela
Pela água que desliza quando chove.
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Pego um copo, ponho minha bebida.
Em seu fundo te vejo refletida.
Atrai-me para o fundo deste poço.
Eu bebo, me embriago e ainda te vejo.
O álcool não ameniza este desejo
De te ter em carne, te ter em osso.
-
Me indagam por que eu ainda fico nesta,
Só te olhando, por um canto ou uma fresta.
"Vai lá, se apresenta, fala com ela".
Se assim me visse, Platão o que diria?
"Não arrisque, fique. Espere um outro dia.
Apenas a observe da janela".