Já não tenho mais idade para esperar a boa vontade da Vida. Apesar dos tombos e das lágrimas, ainda tenho esperança de dias melhores. É claro que a Vida, altiva como só ela, não me deixará sorrir sem medo. Bem, ela acha que tenho, mas não lhe conte a verdade.
Os dias do passado me trazem saudade. Sempre me admirei com os passarinhos, e, hoje, admiro-os ainda mais. Presos estamos nós, apenas nós. Não é irônico que estejamos tão inertes? Nós, que tantas vezes aprisionamos ou silenciamos nossa voz ou a voz alheia? Se não fosse trágico, seria engraçado.
Além da inércia, percebemo-nos incapazes de salvar. Milhares morrem sem que possamos clamar, por um segundo sequer, a uma nova chance. A Morte nos pregou mais uma de suas peças, colocou-nos em nosso devido lugar.
Olhe para as estrelas e se perceba ínfimo. Somos um milésimo de segundo na história. Um suspiro breve, e cem anos se passam. 2020, se você olhar como muito cuidado, veio para mostrar o quanto ainda temos que aprender.
Mas meu coração ainda não quer desistir. Dias melhores virão. Quem escreve já nasce com o dom da esperança. Coragem, pois a Vida voltará, engraçada como só ela, e já posso ouvi-la dizer: "Levanta! Sacode a poeira, está na hora de sonhar".