Abandonado, sem ter a menor noção
Não sabia o que estava acontecendo
Do dia para noite, como se tivessem tomado uma poção
Vi as pessoas desaparecendo
Um vírus mortal estava em erupção
Colegas entreouviam prelúdios do fim da humanidade
Mas pra outros, como eu, ela já era finda há muito
Se era chegado o fim do mundo,
será que Deus também tinha esquecido do moribundo?
As máscaras vão muito além das de tecido
São aquelas utilizadas todos os dias
Enquanto sigo esquecido
Largado na calçada vadia
Sem ser digno de um olhar compadecido
O fim da pandemia trouxe conforto
Para quem não vivia já meio morto
Como sonhar com o lado de fora,
se nunca estive do lado de dentro?
Quando o habitual retornou
Falavam em comemoração:
“O isolamento acabou!”
Mas não para este irmão.
Se o futuro havia, enfim, chegado,
Por que eu continuava abandonado?
(Autoria própria)
(Imagem: Leroy Skalstad por Pixabay)
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