Há anos a fio
afio minha faca de cortar palavras,
sonhando com o aço fino
que deixasse exposto
só o fundo das coisas do mundo.
A despeito de meu refinado esforço
essa lâmina que trago comigo
não afia. Não afia.
Não se esforça para ferir,
não é dada às durezas da vida.
É uma lâmina que já nasceu enternecida.
Em vez de corte preciso
teima em demorar o olhar
encantada
na imprecisão de tudo.
É uma faca perdida essa bandida...
Então me conformei,
vim fazer versos
(bobos, soltos, mas versos).
Cada um corta
− e ama –
as palavras como pode.
#Poesia #Concurso #Eternizarte