Voa o pássaro
Eu o observo
Sinto um desejo súbito de voar
De ser pássaro um momento
Acaso sabe o pássaro que está voando?
Acaso sabe o pássaro que é pássaro?
De que adiantaria ser pássaro
Se eu não soubesse que sou?
E se soubesse que sou pássaro
E que voei? Então?
Então observaria os peixes no mar
E desejaria nadar como eles
E uma vez tornada peixe
Do fundo do mar
Observaria os raios do Sol
Rasgando os mistérios das águas
E alimentando as árvores firmes no solo
E desejaria ter no Sol meu alimento
E sorver da terra
A seiva da minha vida...
E uma vez tornada árvore
Ficaria entediada
Na fixidez perene
E veria os homens a caminhar
E desejaria ter liberdade
Para me mover por todo mundo
Então, tornar-me-ia outra vez mulher...
E tudo se passaria assim, sempre?
Desejaria sempre o que não sou?
A não ser que...
Eu não soubesse que sou
E apenas fosse!