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Hoje tem Rock and roll! O resgate dos roqueiros rebeldes unidos do berço ao asilo.

Hoje tem Rock and roll! O resgate dos roqueiros rebeldes unidos do berço ao asilo.
Sérgio Pacheco
May. 12 - 4 min read
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Eram dois amigos inseparáveis: Pedro e Benedito. Desde a juventude já aprontavam muito. Nos finais de semana, frequentavam o cinema, os parquinhos e os bailes nas casas dos amigos. Partilharam o primeiro carro. Tiraram a virgindade no mesmo dia, lá na zona do baixo meretrício. Tomavam “Cuba libre” e “Hi-fi”, até se embebedar. Azaravam as gatinhas e sempre entravam em confusão. Nada demais para aquela época, os anos 1950. Alguns tapas e socos e muita risada. Eram os tempos dourados.

 

Anos depois, foram para a universidade. Deram de cara com outra realidade. Vieram os anos rebeldes. Coerentes com o espírito estudantil daqueles dias de chumbo, questionaram o regime político da ditadura militar. Frequentavam as passeatas, corriam da polícia.

 

Nesse ambiente efervescente, se embebedaram de cultura. Conheceram de perto o movimento musical da Tropicália e testemunharam o surgimento da MPB, com a segunda geração da bossa nova. Mas se apaixonaram mesmo foi com o velho e bom Rock and roll.

 

O ritmo acelerado e dançante havia conquistado adeptos no início dos anos 50 e ganhado o mundo com o sucesso dos garotos de Liverpool em 1960. Agora, com as transformações dos anos 1970, consolidava o surgimento do movimento punk e das bandas de hard rock e metal, dando vazão à angústia dos novos jovens rebeldes. E caíram de cabeça, os dois rapazes!

 

Experimentaram de tudo. As drogas naturais: Maconha e ópio. As sintéticas: Ecstasy e o LSD. E as semissintéticas: heroína e cocaína. Sobreviveram! E é natural que se esquecessem um pouco das coisas. Mas sobreviveram até hoje. Agora exibem, cada um, uma tatuagem no braço: no primeiro, uma caveira; no segundo, um dragão. Os jovens roqueiros e rebeldes!

 

Sempre juntos, o Pedro e o Benedito.

 

Se casaram no final dos anos 1970, as esposas eram duas amigas. Ingressaram no serviço público, tornaram-se adultos e compadres. Criaram os filhos e viraram uns “tiozões”. Bons pais, ótimos avós. Assim se tornaram o “Vô Pedro” e o “Vô Benedito”.

 

Com o tempo, já idosos, quis o destino que ficassem viúvos, quase na mesma época. Vieram os esquecimentos naturais da idade, a confusão mental, as alucinações e os delírios. Os filhos e netos decidiram, então, levá-los para uma casa de repouso. Dessas boas, que têm o conforto que o dinheiro pode pagar. Aulas de música e dança, ginástica e atividades de pintura. Tudo de bom e do melhor.

 

Foi numa sexta-feira, dia 13 de julho, que a direção do lar de idosos deu por falta de dois residentes e alertou a polícia. A procura levou até o festival de heavy metal que acontecia na cidade, em comemoração ao “Dia Mundial do Rock”. O melhor dos festivais! Somente após uma busca frenética, Pedro e Benedito foram encontrados, por volta das 3 horas da madrugada, já atordoados por causa da zonzeira!

 

A dupla foi encontrada sentada no gramado e batendo cabeça. Eles recusavam a ir embora. Só com uma escolta eles voltaram para casa de repouso.

 

Ao entrar no carro da polícia, os dois velhinhos quase levaram ao delírio os jovens que acompanhavam a cena de resgate: com a língua para fora e as mãos levantadas, sinalizavam com os dedos os "chifres do rock".

 

A expressão com as mãos tem suas origens nas religiões orientais, como o budismo e o hinduísmo, foi muito usada para afugentar demônios e eliminar obstáculos do caminho.

 

Delírio. Merecido delírio dos velhinhos roqueiros e rebeldes!


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