vai me prender por causa de uma vírgula?
é crime contra a humanidade por acaso?
eu escrevo meu texto desvirgulado e esfrego na sua cara a melodia dele
tenha fôlego!
quis escrever foi um texto dançante em pé de bailarina ou de menino bailarino
não me importam gêneros nem vírgulas essa coisinha besta de implicâncias
apenas deixem as meninas e os meninos em paz e não matem o sujeito
longe do predicado ele é um homem morto
prefiro um texto atrevido teimoso espilicute birrento
cantado saltitante na voz de quem lê do que um textinho cheio de comportadas vírgulas todo medroso
me disseram que se usa a vírgula para dar pausa e ritmo
– ah é professora e quem é que tem ritmos iguais?
um texto não tem a mesma pulsação nem quem escreve nem quem o lê
um texto tem autonomia de texto tempo ritmo curvas melódicas
personalidade encalcada em cada símbolo e palavra
se eu não quis a vírgula me chamem de ignorante eu nem me importo
não sou doutora mesmo não quero títulos nem pontuação no lattes nem comendas
eu quis foi dançar junto com meu texto lê-lo em voz alta
senti-lo em meus prolongamentos nervosos estender-me nele
texto obsessivo que me seduz quanto mais obsessivo mais eu me deito com ele
burilo o texto e faço amor levo até um homem pra cama
desde que as vírgulas fiquem do lado de fora
e não haja pausas e nem me traga problemas faça-me o favor
minha cama tem ritmo de texto verso de uma linha só página inteira continua no verso da folha toma fôlego e intensidade esquece as vírgulas
completa o caderno que já é quase todo e recomeça tudo de novo
– ufa mas que disposição tem esse texto meu amor!
tá combinado então vírgulas não têm lugar cativo em meu texto
não trago clareza nem explicação se trago alguma confusão melhor ainda
o que digo eu sei vocês entendam como queiram se a carapuça lhes serve
vírgula maçante homem abusado e desejo insosso quero mais não
#Poesia #Concurso #Eternizarte