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Flerte com a liberdade

Flerte com a liberdade
Pietra Donato
jun. 27 - 2 min de leitura
0340

A grande São Paulo parou

(ou quase),

Paris não é mais

a cidade do amor

e, na Disney, os sonhos

não se tornam realidade.

Porque o novo inimigo chegou,

um inimigo sem rosto,

nem cheiro,

nem som

e muito menos aviso.

Um inimigo silencioso,

que viaja pelo ar,

como folha solta no outono,

que se passa pelo toque,

como no abraço de amor de namorados,

que não fala,

como aqueles que têm medo.

 

Mas agora todos tememos,

os trabalhadores,

os operários,

os professores,

os alunos,

os padeiros,

os idosos,

os adultos,

as crianças

e os poetas,

que são um pouco de tudo.

Mas eu não sou poeta,

sou apenas uma mulher.

E, por isso, temo mais ainda,

porque, pela primeira vez,

tenho um inimigo

do qual a poesia

não pode me salvar.

 

E eu sinto saudade.

Sinto saudade de sorrisos

que não eram escondidos

por máscaras.

Sinto saudade de mãos dadas,

palmas tocando, dedos entrelaçados.

Sinto saudade de perfume

doce, amadeirado, floral,

qualquer um

que não cheire a álcool.

 

E, na quarentena,

sofremos nós,

aqueles que amam,

que sentem

e que esperam,

mas cansamos de esperar,

porque dois meses carregam

60 dias que carregam

1440 horas que carregam

um sentimento danado de

“já acabou?”

 

Todas as noites,

antes de dormir,

antes de dar boa noite,

tenho certeza que

as estrelas recebem

milhares de pedidos

para que tudo isso passe,

para que tudo isso seja

só uma alucinação,

um pesadelo

ou uma pegadinha.

E eu nunca tive tanta pena

desses pontos luminosos

que divertiam

minhas madrugadas,

porque, agora,

nem uma estrela cadente

poderia nos salvar.

 

E agora estamos assim

trancados em casa

sem motivos para sair

porque o inimigo

não perde tempo

nem oportunidade.

Estamos assim

praticando uma solidão coletiva

que não tem fim,

cor

E nem é tão coletiva assim,

porque sentimos falta,

uma falta que dói muito,

como o primeiro ralado

quando se aprende

a andar de bicicleta,

mas que logo depois vale a pena,

porque se consegue

pedalar sozinho.

Agora só esperamos

que o período

de capacetes e joelheiras

passe logo,

porque temos sede de pedalar,

de dar as mãos

e de olhar nos olhos.

 

10 de maio de 2020

 


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