Nós, no Brasil, não estamos sós a viver uma campanha eleitoral, vazia e sem sentido. Na Europa, como aqui, há campanha de casos, de bate-bocas e outros assuntos da mesma desinteressante envergadura.
O que nos espanta é o fato de que entre nós, nem mesmo lançaram oficialmente todas candidaturas, já iniciaram as discussões e desavenças entre parentes, vizinhos e amigos. Gente muito boa e esclarecida começa a virar a cara uns para os outros e a reproduzir porcarias nas redes sociais.
Instagram, Telegram, WhatsApp e agora o Tick Tock, para alcançar a moçada mais jovem. Um (des)incentivo ao primeiro voto? A todo momento um bombardeio de notícias falsas, informações tendenciosas. Discursos ideológicos, sem o mínimo de fundamento. Essa eleição também promete ser decidida nas redes sociais!
Para não se afogar nesse mar de (des)informação, recomendo ouvir a pesquisadora Claire Wardle, do Instituto de Pesquisa “First Draft News”, ligado à Universidade de Harvard, que identifica sete tipos de notícias falsas:
- “sátira ou paródia” - sem intenção de fazer mal, mas tem potencial para enganar;
- “falsa conexão” - quando as manchetes, visuais das legendas não dão suporte a conteúdo;
- “conteúdo enganoso” - má utilização da informação para moldar um problema ou de um indivíduo;
- “contexto falso” - quando o verdadeiro conteúdo é compartilhado com informações falsas contextuais;
- “conteúdo impostor” - quando fontes verdadeiras são forjadas com conteúdo falso;
- “conteúdo manipulado” - quando informação genuína ou imagens são manipuladas para enganar, como fotos "adulteradas";
- “conteúdo fabricado” - conteúdo novo é 100% falso, projetado para enganar e fazer mal.
E salve-se quem puder! E salve o direito ao livre pensamento e manifestação! Quem tem cérebro, “deleta”. Quem não tem, “curti” e compartilha! Que venham as “Fake News”!
“Mamadeira de piroca”, “Kit Gay” e a suposta “Agressão de Ciro Gomes a Patrícia Pillar”. E do outro lado veio aquela: “Senhora agredida por ser eleitora de Bolsonaro”. Notícias que causaram muita confusão nos eleitores em 2018 e influenciaram o resultado daquele pleito horroroso.
Mas não vejo a hora é de começar o debate de coisas sérias, de verdade!
Como os candidatos, se eleitos, vão conduzir o tripé macroeconômico (os três princípios metodológicos que regem a política econômica no Brasil e também da maioria dos países desenvolvidos: câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal)?
O que esperar do novo governo para reduzir as desigualdades sociais?
Como reduzir o preço dos combustíveis que andam nas alturas?
O que fazer com o Salário Mínimo que voltou a perder poder de compra pela primeira vez depois do Plano Real?
Como fortalecer a Saúde Pública?
Qual a saída para a educação brasileira nesses tempos de acelerada tecnologia?
Alguém tem um plano estratégico para o Brasil?
Esse assunto lembra um caso lá da Europa, que como aqui, sofre com a rede de intrigas da política e com a crise no sistema democrático representativo, o que tem evidenciado um novo comportamento do eleitor.
Na França, por exemplo, onde o voto é facultativo, a escolha entre os 12 candidatos à Presidência da República alcançou a abstenção de 26,31% dos eleitores nas últimas eleições francesas. O percentual é maior do que no primeiro turno em 2017, quando atingiu 22,23%.
Já na eleição portuguesa, no início do ano, não votar foi a decisão de 42% dos mais de 10,8 milhões de eleitores de Portugal. Dezoito partidos políticos de várias faces disputaram o poder nas terras lusitanas. Uns pediam a saída de Portugal da União Europeia. Plasmem! Outros, ainda sonham com o “comunismo”. Acredita? E as denúncias de xenofobia contra brasileiros aumentaram 433%, desde 2017. Combustível farto para uma extrema direita europeia pervertida.
Por lá, os fazedores de notícias postaram na rede social um vídeo que compara o passado socialista com as situações “traumáticas”, pelas quais todos nós, supostamente, passamos um dia na vida: como pegar o sarampo, cultivar a acne, sofrer o primeiro desgosto amorosa, etc. (Se fosse aqui no Brasil, incluiria também pegar a dengue, a diarreia, a malária ou ser atingido por bala perdida).
Portugal já discute tornar obrigatório a votação, como aqui no Brasil, em função dos baixos índices de participação. Também pudera, o eleitor de lá prefere ficar em casa a ter de escolher entre a acne ou o sarampo.
Nós, por aqui, apostamos nos jovens e seu primeiro desgosto. Vamos contando com a eficiência duvidosa do fumacê para espantar os mosquitos e tomando um chá de folha de goiabeira para prender a caganeira, enquanto esperamos confiantes os candidatos dizerem a que vieram e o que pretendem.