Lembro dos meus 4 anos. Com os pés
descalços corria livre. Não tinha medo de
subir em árvore, não tinha medo de me banhar no rio, não tinha medo de viver.
Nem passado e nem futuro me interessavam... Contemplar o presente era o que importava.
Em momentos de solidão e silêncio, quando escuto o canto dos pássaros, fecho os olhos e sinto a brisa em meu rosto e recordo do tempo em que não tinha medo de nada.
Desde quando eu comecei a ter medo das coisas? Não sei.
Não sei que monstro me abordou na virada de uma esquina. Me transformei em algo
patologicamente cauteloso.
De cautela em cautela.... recuei.
Tenho medo do que os homens são capazes de fazer se me abordarem numa esquina qualquer.
Ouvi tantos “nãos”,
que comecei a ter medo de cair da árvore, medo de me afogar no rio, medo de viver.
A gente desafia os perigos iminentes achando que nada de ruim vai acontecer...
Comigo não!
Mas o perigo está a espreita e ele te pega desprevenido na virada da próxima esquina.
A gente levanta pra cair de novo e levanta pra cair de novo e levanta pra cair...
Nunca mais vou subir em árvore. Nunca mais vou me banhar no rio. Nunca mais eu...
vou viver?
Nos tornamos seres de matéria viva e alma morta.
Somos governados pelo inimigo, dormimos com o inimigo, trabalhamos com o inimigo, convivemos com o inimigo.
Qual deles é de fato o inimigo?
Cuidado, bebê! O inimigo vai descobrir sua maior fragilidade
e usá-la contra você!
O inimigo da vez evoluiu. Ele se tornou invisível.
Quem será o hospedeiro? Meus cinco sentidos estão aprisionados na minha ilha tecnológica particular, rodeados por dispositivos eletrônicos... por todos os lados.
A sensação do toque, dos cheiros, dos fluidos corporais, agora fazem morada no universo das memórias.
Não sei se permaneço aprisionada ou se corro livre com os pés descalços.
O que vai realmente me salvar, pra que eu me sinta viva novamente?
É apenas uma questão de escolha.
Meus 4 anos falam muito mais de mim do que aquilo que me tornei e não sei ao certo em que esquina me mataram.
#Poesia#Concurso#Eternizarte