Passamos mais tempo provando nossas existências.
Que propriamente existindo.E se declinamos para o verbo viver.A tristeza numérica empobrece mais ainda!...
Já perdi oportunidades por não poder provar a minha existência.
Duas vezes para bolsas.Uma para a faculdade.A outra de apoio poético. Por não ter uma conta de serviços básicos em meu nome o que configuraria comprovação de residência.
A de apoio poético exigia conta bancária.Destinada a poeta com vulnerabilidades sociais e econômicas..Oi?...
Quem em vulnerabilidades têm uma conta ainda ativa?...Dá-lhe mais burocracias.A exigência deve-se ao fato do beneficiário ter que fornecer recibos. Certa vez uma amiga.
Chamou-me carinhosamente de poeta profissional.Imaginei-me batendo cartão.E com chapéu de obra.Para que o céu não caísse sobre a minha cabeça.
Que tolice eu nada causo aos deuses.
Antes já brincara com a ideia em um poema:
"Procurar o sindicato dos poetas junto aos pássaros".
Tenho quarenta anos e ainda não existo.
Não posso mudar de ser pois isso seria não ser.
E eu sei que desistir não me protege de sentir dor.
Resta dar-me um tapinha no ombro esquerdo e dizer-me:
-Eis minha velha tu desenvolveu uma linguagem própria.
-E de quebra parou de grifar Álvaro Campos.Compulsivamente.
(Medicação utópica funciona!)
Quanto aos outros eu só vivo pelas excessões.
E eles francamente somente são:
"Minúsculas surpresas"...
"Grandes beócios"...