#Poesia #Concurso #Eternizarte
Um homem que caminha com a morte a seu lado é mais sereno.
Seu guarda chuva está sempre disposto na fechadura da janela.
Seu casaco, pendurado no cabide.
Não que um homem ao lado da morte
tenha medo de chuva,
mas é que, como o guarda-chuva,
ele está sempre disposto.
Ele tem um acordo selado com a solidão, embora lhe agrade a mesa cheia em plena segunda-feira.
Conhece o inferno,
recorda-se do céu,
mas prefere o chão.
Conhece também todos os olhos claros que iluminam as esquinas.
Não guarda sorrisos
nem quando faz tristeza.
Sabe que todo ponto final é lugar de passagem
e que a única estadia definitiva é a estrada.
Parte sempre que algo se revela,
quando tem certeza e quando duvida.
O “Livro Sagrado dos Homens ao Lado da Morte” lhe revelou:
o caminho é lugar de salvação
e a mala pronta,
o único fardo a ser carregado.
O homem com uma morte bem do seu lado
tem passadas firmes, comedidas, elegantes.
Escreve poemas alegres,
ouve Bizet de madrugada,
e lê Rimbaud nas horas vagas.
É marxista de direita
e odeia verdades absolutas.
Uma homem que caminha lado a lado com a morte
sabe perfeitamente que o homem
é o parente mais próximo do camaleão
descendente direto das cigarras e dos bem-te-vis
Por isso,
um animal que
muda
canta
chega
e parte...
#Poesia #Concurso #Eternizarte