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Camaleão

Mauro Sérgio Santos da Silva
Jul. 5 - 1 min read
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#Poesia #Concurso #Eternizarte

Um homem que caminha com a morte a seu lado é mais sereno.

Seu guarda chuva está sempre disposto na fechadura da janela.

Seu casaco, pendurado no cabide.



Não que um homem ao lado da morte

tenha medo de chuva,

mas é que, como o guarda-chuva,

ele está sempre disposto.



Ele tem um acordo selado com a solidão, embora lhe agrade a mesa cheia em plena segunda-feira.

Conhece o inferno,

recorda-se do céu,

mas prefere o chão.



Conhece também todos os olhos claros que iluminam as esquinas.

Não guarda sorrisos

nem quando faz tristeza.



Sabe que todo ponto final é lugar de passagem

e que a única estadia definitiva é a estrada.

Parte sempre que algo se revela,

quando tem certeza e quando duvida.



O “Livro Sagrado dos Homens ao Lado da Morte” lhe revelou:

o caminho é lugar de salvação

e a mala pronta,

o único fardo a ser carregado.



O homem com uma morte bem do seu lado

tem passadas firmes, comedidas, elegantes.

Escreve poemas alegres,

ouve Bizet de madrugada,

e lê Rimbaud nas horas vagas.

É marxista de direita

e odeia verdades absolutas.



Uma homem que caminha lado a lado com a morte

sabe perfeitamente que o homem

é o parente mais próximo do camaleão

descendente direto das cigarras e dos bem-te-vis

Por isso,

um animal que

muda

canta

chega

e parte...

#Poesia #Concurso #Eternizarte


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