Quando comecei a escrever este poema
Eu tinha uma certeza:
Seria o último.
Bordei no papel um tracejado de ideias,
Colei estrofes de antigas poesias,
Escolhi a dedo e com os dedos
O melhor de todos os poemas.
Pedi ajuda aos deuses por uma inspiração infinita,
Desenhei uma mulher bonita da mente,
Somatizei todas as formas de amar.
Eu tinha o absoluto sentido de que estava certo.
Estava perto da criação monumental,
Algo que ainda não tivesse sido espiado por olhar nenhum,
Uma obra que os críticos iriam reverenciar
E quem me amasse, iria me beijar carinhosamente,
Como se estivesse agradecendo por algo sem igual.
Colhi rimas em nomes de flores e luzes em algo de lua,
Busquei tristeza e alegria no vai e vem das ondas,
Provoquei a chama do fogo eterno.
Brinquei com a vida e a morte,
Batizei com vários nomes as pessoas que convivi,
Nem sempre os nomes combinam com as caricaturas...
Descansei o máximo que pude para não parar
Enquanto a fonte continuasse a jorrar.
Eu não poderia interromper meu próprio destino.
Seria o último dos poemas.
Não seria prematuro imaginar que ele viria,
Todos tem o direito de sonhar com o perfeito.
O homem busca a perfeição desde que o mundo é mundo.
Eu não sou de um mundo qualquer,
Não sou o poeta completo,
Não sou o cidadão de coluna ereta,
Minhas penas de tinta
Somente passeavam na poesia sem saber
O que estavam fazendo.
Desta vez, não.
Eu precisava deste feito.
Precisava achar o defeito nas letras e corrigi-lo,
Eu queria ouvir vozes ululando,
Queria ouvir o que diziam,
Queria ver sorrir,
De alegria ou espanto.
Queria tanto que iniciei com as vogais
Em meio caminho atrás das consoantes,
Até que o casamento dos vocábulos
Representasse a união do universo.
Suspirei sílabas celestiais
Até que meus pulmões não respirassem mais.
Juntei as mãos em sinais
Buscando a benção os anjos.
Pedi a todas as liturgias
Que me permitissem um milagre.
Quis dormir e não acordar jamais
Com a estampa na capa de um livro,
A foto e os óculos caindo sobre o nariz.
Como se nesse único dia
Eu não fosse mais o tal aprendiz.
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