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Adolescentes, profissões do futuro e o banquete de carneiros do Machado

Adolescentes, profissões do futuro e o banquete de carneiros do Machado
Sérgio Pacheco
Mar. 23 - 5 min read
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Criar os filhos adolescentes costuma ser visto como um desafio para muitas famílias. E é mesmo! Eles estão naquela fase da vida onde o sobrenome é “transformação”.  Mudanças físicas: hormônios e os nervos estão “a flor da pele”. Mudam-se os corpos e as palavras. As atitudes e o modo de enfrentar o desconhecido. Acontece que o adolescente vê tudo preto no branco. O jovem ainda é incapaz de entender nuances, os duplos sentidos da vida adulta. Uns se enclausuram, se trancam no quarto ou na tela do smartfone. Outros se movem e se protegem em bando, como fazem as aves que migram, em grupos.

 

Mas, como pai e professor por profissão, posso afirmar que se é difícil lidar com adolescentes, mais complicado ainda é lidar com os pais dos adolescentes. Esses a cada dia se sentem mais perdidos e impotentes.

 

Por exemplo, como orientar o seu filho sobre qual profissão seguir? Em um mundo em constante e acelerada transformação tecnológica e de informação, vale a pena tentar se arriscar?

 

Diz o manual (ou o terapeuta): “O processo de escolha profissional não é uma tarefa simples, quer para o jovem, quer para os pais. É fundamental que os pais consigam ser isentos, manter uma capacidade de diálogo franca e aberta.”

 

Então vamos lá! Comecemos por uma breve pesquisa às profissões do futuro: Analista de big data. Arquiteto e engenheiro 3D. Consultor de imagem. Desenvolvedor de dispositivos wearables. Desenvolvedor de software. Engenheiro ambiental. Engenheiro hospitalar. Especialista em e-commerce.

 

- Mas que diabo é isso! Diria um pai de forma franca e aberta.

 

- Filho, na real, não tenho a menor ideia do que é preciso para adquirir as habilidades dessas profissões do futuro! Exclama o pai isento e “sincerão”.

 

Normal, eu diria. Nem mesmo eu, um especialista na educação, sei lá o que faz o tal de “Desenvolvedor de dispositivos wearables”. Só mesmo pesquisando.

 

Prefiro me apegar a um bote salva-vidas, ou melhor, ao clássico ensinamento do Filósofo e pensador francês Edgar Morin. Ele, atendendo o pedido da Unesco para pensar a educação do novo milênio, elaborou, então, um conjunto de reflexões que circulou entre educadores dos diversos pontos do globo para verificações e complementações. Ao final, o documento foi publicado em formato de livro, intitulado “Os sete saberes necessários à educação do futuro”.

 

Os sete saberes indispensáveis enunciados por Morin são: “As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; e A ética do gênero humano.

 

Cada ponto merece ser lido e entendido por pais e educadores. O que se aprende e vive na escola tem muito a ver também com democracia, construção da paz e valorização da diversidade humana.

 

Mas nem todo mundo tem tempo e paciência para estudar sobre isso. Alguns certamente buscarão mais informações sobre esse assunto. Outros, a maioria dos pais, aprendem mesmo é na prática.

 

E tem também aqueles que se julgam mais “espertos” e que desejam, a qualquer custo, tudo de bom e melhor para seus filhos.

 

Ouvi outro dia o diálogo de um pai sem escrúpulos a ensinar o seu filho que completava os 18 como conquistar riqueza e fama. Para tanto, o jovem deveria se portar como um “medalhão”, um objeto de brilho, de beleza, que atrairia quem o observasse.

 

- Se quer vencer na vida, meu filho, convém não ter traços de individualidade que possam afastar os observadores. Disse o pai zeloso.

- Anule seus gostos e opiniões pessoais. Mantenha-se neutro em tudo, tenha opiniões superficiais. Prefira o humor simples, ao invés da ironia, essa necessita de certo raciocínio e inteligência. Sentenciou o progenitor.

 

E foi ensinando o passo a passo ao jovem, e toda a espécie de “velhacaria” para que ele se tornasse um homem poderoso.

 

– Aprenda os benefícios da publicidade, de aparecer e se mostrar perante os outros. Longe de inventar um “Tratado científico da criação dos carneiros”, compra logo um carneiro e dá-o aos amigos sob a forma de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente aos seus concidadãos.

 

Esse diálogo entre pai e filho nos contou Machado de Assis, na sua “Teoria do Medalhão”, a quem peço a licença para copiar um trecho e atualizar.


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