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Encontrei dinheiro no bolso da calça. Estava limpo, cheirando a amaciante. Como as roupas e os Rolex.

Encontrei dinheiro no bolso da calça. Estava limpo, cheirando a amaciante. Como as roupas e os Rolex.
Sérgio Pacheco
Apr. 5 - 6 min read
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Encontrar algum dinheiro que você se esqueceu no bolso da calça é uma daquelas sensações tão gostosas que alegra o dia da gente, não é mesmo? Não estar contando com o dinheiro e ele aparece. Se for nota grande então, melhor ainda! E quando a gente encontra uma nota de dinheiro no bolso da peça de roupa que já foi para a água? Quando tira a roupa da máquina de lavar, para estender no varal, a notinha ali, toda limpinha, molhada e grudadinha. Cheirando amaciante. Que felicidade!

 

Quem não gosta de um dinheiro inesperado? Ainda mais quando está assim, limpinho, sem esforço!

 

Mas tem gente que gosta muito, muito mesmo, de dinheiro! Isso faz lembrar a história do Giorgio e do Benedetto, uma dupla que definitivamente sabia como “encontrar” o dinheiro nos bolsos das roupas. Adoravam dinheiro e roupas lavados, passados e limpos.

 

Na verdade, seus nomes eram Geraldo e Bartolomeu. Eram irmãos, se apresentavam como jovens empreendedores emergentes do interior paulista. Vieram para Minas e se instalaram no melhor shopping center da capital. Montaram a “Giorgio & Benedetto”, uma loja chiquérrima que só vendia roupas belíssimas e de primeira qualidade. Todos gostavam de passar lá na porta da loja e admirar a vitrine. Aquela camisa era mesmo maravilhosa! Que caimento, que tecido! Mas a etiqueta quase invisível mostrava um preço de tirar o fôlego: R$850,00. Já a calça jeans era maravilhosa, vestia como ninguém o manequim todo sarado. Só tinha um problema, o preço era espantoso, de cair o queixo: R$1.930,00. Como é que tem alguém com dinheiro e coragem de comprar roupas por esses preços?

 

Acho que era por isso que não se via ninguém entrar na “Giorgio & Benedetto”. Fazia questão de conferir. Entrava dia e saia dia, a loja andava sempre vazia. Lá dentro, somente as duas funcionárias, todas no padrão do estabelecimento: belíssimas, sorridentes e discretas, falando baixinho. Os donos só de vez em quando apareciam. Com o tempo, a loja só prosperava e dispunham de muito dinheiro em espécie como resultado de seu negócio. Tudo demonstrava correr a mil maravilhas.

 

Entretanto, alguns anos antes, a dupla havia dado um grande desfalque numa empresa de exportação para a qual prestaram serviços de “consultoria”. Desde então vinham se sustentando com aquele dinheiro desviado, sujo e ilícito. No decorrer dos anos, gastaram uma parte considerável desse desfalque. Mas começaram a imaginar em que locais, além da sua casa, poderiam esconder a bufunfa. O dinheiro ainda estava em espécie e, portanto, sujeito a furto ou ser encontrado com facilidade. Decidiram, então, que o melhor era esconder o dinheiro no próprio sistema bancário.

 

E foram lá montar uma estratégia para depositar a dinheirada! Para evitar perguntas constrangedoras dos funcionários do banco, eles depositavam diariamente aproximadamente R$30 mil. Sempre utilizavam os terminais de autoatendimento, nunca na boca do caixa. Eram até R$ 5 mil, máximo de 50 cédulas por envelope, a maior parte eram em notas velhas, para disfarçar.

 

Estava explicado o enigma do sucesso da loja chiquérrima e vazia no shopping da zona sul! O negócio era só de fachada, mais uma estratégia de “lavar o dinheiro”. Os larápios explicavam que a origem daquele dinheiro todo era parte de sua receita regular. Aquele valor corresponderia ao faturamento de sua loja no shopping center naquele dia.

 

Entretanto, a dupla não contava com a curiosidade dos funcionários do banco. Certa ocasião, no dia seguinte aos depósitos, quando esvaziaram o caixa eletrônico e apuraram o movimento da noite, o depósito esquisito levantou suspeitas. Não demorou muito para constatarem ser um movimento recorrente. Como é que uma loja iria receber tanto dinheiro em espécie e como é que iriam vender tanta roupa cara em um só dia? O banco tratou de comunicar a transação suspeita ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

 

Depois de analisar a comunicação, o COAF decidiu divulgar um relatório para a polícia. Com base nas informações recebidas, a polícia fez uma busca na residência dos rapazes. A busca logo revelou muito mais dinheiro vivo. Só nos bolsos do casaco do Geraldo, eles tinham mais de R$250 mil e, de acordo com anotações encontradas pela polícia, eles haviam também depositado um grande volume na conta de sua mãe, em uma outra instituição financeira. A polícia conseguiu autorização legal para fazer uma busca no cofre de segurança e lá encontrou outros R$ 225 mil e muitas outras notas em dólar americano.

 

Geraldo e Bartolomeu perceberam que as provas eram irrefutáveis. Contaram à polícia sobre outros R$ 1 milhão que estavam escondidos lá na loja fabulosa e confessaram a fraude, a apropriação indébita e a sonegação fiscal que vinham escondendo há algum tempo. Graças à denúncia apresentada pelo banco, os dois farsantes foram condenados a três anos e meio de prisão e quase R$ 5 milhões foram confiscados.

 

Moral da história: comportamento comercial atípico; faturamento irreal para uma loja de shopping; grande volume de transações em espécie: Siga os indicadores!

 

Hoje, quando a gente passa na porta da loja, lá no shopping center da zona sul, enxerga um tapume tampando tudo. Estão fazendo uma grande reforma lá dentro. Dizem que vão abrir uma franquia de uma dessas joalherias famosíssimas, que vendem até os relógios Rolex. Com certeza a vitrine vai virar ponto de visitação de clientes e também de assaltantes. Agora é moda assaltar os shoppings centers.

 

Já outros, com malícia política, já comentam que será uma nova franquia da Cacau Show.

 


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