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A última cartada

Henrique Palhares
Sep. 28 - 8 min read
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João Henrique Palhares - O Sabre da Serpente

Na sala dos advogados do Fórum da Justiça Estadual de Arapiraca, Alagoas, entra Ceticônio:
- Boa tarde, gente!
Alguns respondem de forma igual.
- Tudo certo, Silenciano? - pergunta Ceticônio.
- Estamos por aqui, doutor. - responde o jovem sorrindo e olhando de lado para um assíduo frequentador da sala.
- Hum? Entendi. - pisca Ceticônio, com um sorriso no canto da boca.
Ele se senta e começa a mexer no computador.
- Saia daqui, Satanás! Afaste-se de mim em nome do Senhor Jesus! - fala desconfiado Abiloláldio.
- Meu Deus! É hoje... - diz Ceticônio.
- O que foi, doutor Abiloláldio? Precisando de alguma coisa, homem? - pergunta Silenciano.
- Estou sim. Estou precisando que parem de me perseguir. Já desligaram o computador de novo! Foi você, Silenciano? Até você está me perseguindo? Já não basta a Polícia Federal? - fala com ironia e certa raiva, Abiloláldio.
Ele gira a cadeira e olha em volta da sala e encara Silenciano.
- Homem, não sou eu não! Se ficar sem usar a máquina por muito tempo, o programa se fecha automaticamente. Entendeu? - fala Silenciano, coçando a cabeça, meio impaciente.
- Como é que é? Conversa! Isso é perseguição contra mim! Desde muito jovem que sofro isso! Se não é esse presidente aí que é um delegado disfarçado e outros agentes infiltrados que se passam por advogados e advogadas, e mais outros que estão travestidos de faxineiros... É muito engraçado isso! Rá-rá. Que ironia! Esse pessoal acha que eu sou besta; um desavisado... É preciso muito mais do que isso pra me enganar ou me intimidar... - com ironia e raiva nos olhos, fala Abiloláldio.
- Doutor, se acalme, homem. É só reiniciar a máquina. Deixe que eu faço isso.
- Não. Não precisa. Eu mesmo faço. Eu sei fazer também. Quando não é uma coisa é outra pra atrapalhar minha vida. Olhe que eu só estou trabalhando aqui, em paz. Não incomodo ninguém! Ao contrário, as 'autoridades' deste Fórum é que me atrapalham e testam minha paciência! Eles querem me enlouquecer. Já entendi! Mas sou muito maior que isso!
- Reinicie o computador, doutor. E deixe esse pessoal pra lá!
Por um instante, Abiloláldio se aquieta e volta a 'trabalhar'.
Silenciano olha pra os demais presentes e sorri de leve, aproveitando que o nervoso advogado está de costas.
- Boa tarde, senhoras e senhores! - fala um advogado ao entrar.
- Boa tarde, por quê? Pra que isso? Não há nada de bom por aqui. - resmunga forte, Abiloláldio.
O homem olha para Silenciano e para Ceticônio. Faz cara de quem não entendeu. Ceticônio faz um gesto indicando que Abiloláldio é doido mesmo. O homem sorri.
Entra Farrazildo e cumprimenta Abiloláldio.
- Tudo bom com você, meu amigo?
- Tudo bom? Tudo bom de melhorar só se for, Farrazildo. Se eu estivesse ganhando igual a um juiz de direito, sim, estaria bem. Contudo, não é o caso. Acho que é melhor bater palmas pra maluco dançar! - ele ergue os braços e começa a bater palmas.
- RÁ-RÁ-RÁ! Esse 'Abil' é demais! Risos.
As pessoas sorriem, mas o autor da troça não.
- Tenha paciência, homem! A vida é cheia de surpresas! Quem sabe você não ganhará na loteria qualquer hora dessas?
- Só se for! Acho que só assim mesmo. Bem, se eu ganhar vou comprar um barco à vela e irei embora de Alagoas. Acho que irei para Búzios, no Rio de Janeiro. O que acha?
- É uma excelente ideia, meu nobre! Boa sorte! - sorri para todos e se senta numa cadeira no canto da sala.
- Doutor Ceticônio, vamos tomar um cafezinho. - fala Sonsonaldo.
- Vamos, pra animar! - responde e se levanta.
- O senhor é de Água Branca?
- Sim, sou. Conhece?
- Demais! O doutor conheceu Estupidônio Malévolo? Que foi prefeito de lá. Faz tempo!
- Sim. Sei quem era.
- Ele morreu não foi? Teve um infarto fulminante.
- Ouvi dizer. Foi um péssimo prefeito!
- Rapaz, aquele homem era azoado demais! O irmão, Truculentôncio, o detestava!
- Ouvi dizer que "os irmãos" o desprezavam! Tem mais três. Acho que nem os filhos o suportavam.
- Violento! Gostava de se acompanhar com pistoleiros.
- Pois é. Figura sinistra! Intragável!
- Aprontou um bocado!
- Ele estava envolvido na morte de Aproveitadoziano? Como foi a história?
- Doutor Sonsonaldo, lembro-me que ele falava demais! Aproveitadoziano era atrevido também. Fiquei sabendo que ele desafiou o sem vergonha do Estupidônio na Câmara de Vereadores certa vez. Disse a ele que os dias dele estavam contados e que ele iria pra cadeia após deixar a Prefeitura. Pois Sonsonaldo era ladrão dos mais safados que tinha! Usava drogas, bebia demais, a peste... Aproveitadoziano vivia cantando vitória antecipada que seria o próximo prefeito. Pois as pessoas tinham muito medo de Estupidônio e seus irmãos! Eles sempre foram violentos!
- Rapaz, então, com essas, Estupidônio mandou matar o vereador.
- Na certa. Tudo leva a crer que sim. Mas, é interessante, depois que o assassino do Estupidônio saiu da Prefeitura, ele foi à falência e nunca mais ninguém da raça dele ganhou eleição lá. Foi uma maldição pra largarem de serem bestas e bandidos! Filhos da puta!
- E Zé Estelionatão? Ele sumiu depois da morte de Sonsonaldo. Ele estava envolvido também?
- Eu soube que Zé estava 'enrolado' nas tramóias de Estupidônio. Aí ele, quando viu o outro se 'lascar', fugiu. Dizem que ele mora lá prós lados de Mato Grosso. Mas, ao que parece, anda dando golpes por lá! 
- Eu o conheci. Gostava de 'enroladas'! O filho dele também o acompanhou?
- Estelionatinho?! Sim. Tal pai, tal filho. Vive com ele pra lá. É o fiel escudeiro!
PAF! POF! PUF! AAAAARGH! GRRRRR!!! BANDIDOS!
- QUE PESTE É ISSO?! - espanta-se Ceticônio.
- Vamos ver! - fala Silenciano.
- É SATANÁS! - uma mulher possessa grita.
- Chamem a segurança! - uma pessoa grita.
- O que houve? - Sonsonaldo pergunta ao faxineiro.
- Uma mulher surtada!
- Oxi?! É isso?
- É. Lá fora.
- AAAAAAAAAH!!! - a louca grita.
- Correeeee! - alguém fala.
CRÁAAAASSS!!!
Cadeiras rolam.
Seguram-na, por fim.
- Que susto! - uma mulher comenta aliviada.
- Que 'resenha'! - diz Sonsonaldo.
Eles entram na sala. Vão tomar mais café.
- É assim que os bandidos do poder agem! Eles enlouquecem as pessoas! - diz, com raiva, indignado, Abiloláldio.
- Que coisa! - com um sorriso debochado, fala Ceticônio, olhando de lado para Sonsonaldo.
- Essa pobre mulher será torturada agora! - diz Abiloláldio.
Os outros sorriem.
- Eu vou lá agora! - Abiloláldio pega sua pasta e o terno e sai da sala.
- Isso vai dá merda! - Silenciano comenta, sorrindo.
Uma pessoa entra e fala:
- Minha gente, doutor Abiloláldio deu um soco na cara do guarda! - fala Espantadina.
- Oxi!!! Que 'bicho' louco da 'mulesta'! - Sonsonaldo se assusta.
- Vamos ver! - Ceticônio diz.
Abiloláldio está com a arma do guarda apontada para o outro guarda. Ele está paralisado com as mãos para cima.
- CRISTO! ELE SURTOU! - Sonsonaldo fala.
- E agora? - diz Silenciano.
- EU VOU MATAR VOCÊS AGORA! BANDIDOS! CADÊ O JUIZ LARÁPIO MÃO GRANDE? TRAGAM ESSE CANALHA AQUI! VOU MATÁ-LO TAMBÉM! - enfurecido e trêmulo, esbravejou Abiloláldio.
- Por favor, doutor. Baixe essa arma. - fala calmo o guarda caído.
- CALA A BOCA! Quando você me chamou de maluco, eu não disse nada! NADA!
BAM!
- NÃO!!! - alguém grita.
- Vamos sair daqui! - Ceticônio diz e sai apressado pelo corredor contrário ao salão onde estavam o louco homicida.
- Socorro... Estou... - desmaia Sonsonaldo.
AAAAAAAH!!! - uma mulher surta.
BAM!
A mulher cai morta do outro lado da sala.
- NEM TENTE, CRETINO! ME DÊ SUA ARMA AGORAAAA!!! - ordena para um guarda próximo ao primeiro morto.
O homem entrega a arma.
- DEITA NO CHÃO!
Em seguida, Abiloláldio pega a arma que foi colocada em cima da bancada da recepção. Ele se vira e atira contra a porta de entrada de vidro.
BAM-BAM-BAM-BAM!!!!
Por fim, Abiloláldio cai.


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