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A Reunião

Henrique Palhares
set. 12 - 5 min de leitura
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A Reunião - Crônicas do Bananil
João Henrique Palhares - O Sabre da Serpente

Rigorosina estava braba, entrou na sala dos professores para a reunião. Ela entra:
- Bom dia, gente! - Rigorosina fala e coloca sua pasta sobre a mesa.
Algumas pessoas respondem em diferentes tons e ânimos.
- Vamos à reunião... - comenta Sonsinilda, respira fundo.
- Relaxe, mulher. Você parece tão preocupada. A vida é bela! - fala Serenalva.
- Êita... - suspira Rigorosina - Gostaria dessa cabeça fria! Mulher, estou bem atarefada com aquele povo da Secretaria! Deus do céu, que gente pra inventar coisa! - desabafa colocando as mãos no rosto e de olhos fechados.
- O que foi desta vez? - pergunta Pacientina.
- Gente! Aqui! Vamos às novidades... - chama a atenção dos distraídos, Sonsinilda.
- Secretaria cobrando, no mínimo. - fala Irritânia.
-Acertou, querida. Desta vez, virão aqui e disseram que ficarão para 'ajudar' com os diários de classe e para vocês tirarem as dúvidas e tal. - fala Rigorosina.
- Só isso? Não acredito! - Irritânia fica intrigada.
- Mulher, mulher! 'Tu' acha?! - franze a testa, levanta uma das sobrancelhas, e balança de leve a cabeça, em gesto negativo, Rigorosina ao responder.
- Virão também por causa da falta de merenda. Acho que estão duvidando das várias queixas e ofícios que já fiz. - acrescenta a diretora.
- Bando de incompetentes! Conheço aquela gentinha! Parece que a gente 'tá' inventando... - diz Irritânia.
 - Mas, deixa isso pra depois, eu quero conversar sobre outra situação que está me deixando muito triste e mal demais. Já me tirou o sono junto ao meu pai que já foi internado, já voltou pra casa, já foi internado de novo... - murcha os ombros, sopra, inspira a diretora. Faz uma breve pausa e completa. - Enfim, quero pedir a vocês pra gente fazer uma campanha pra conseguirmos alimentos pra nossos alunos. Toda ajuda será bem vinda! Outro dia, um menino de Chatavânia, o bichinho, desmaiou. Ele estava verde! Meu Deus! Isso corta meu coração... Verde e fraco de desnutrição! A que ponto chegamos?!
Um breve e pesado silêncio caiu sobre todas.
- Muito sério isso! Mas, infelizmente, temos outros casos aqui, sabiam? - fala Irritânia.
- É verdade! A gente tem que denunciar à imprensa! - falou enraivada, Chatavânia.
- Já fiz isso! Liguei pra o jornal da TV daqui. Eles virão logo, foi o que disseram. - acrescentou, Apressadilma.
- Sim, mas estou contigo, Rigorosina! Vamos fazer a campanha, minha gente! É o mínimo, a gente sabe, mas é melhor que nada! - falou Chatavânia.
- Vamos nos mobilizar e conversar com os pais e as mães que têm mais condições... - disse Irritânia.
- Olhem só, não contem comigo não! 'Tô' fora! Isso é demais! - com a cara fechada e de braços cruzados, disse Enrolândia.
As mulheres se entreolharam.
- Participa quem quiser. Simples! - falou Sonsinilda.
- Óbvio! É um ato de caridade. Trabalho voluntário ora. - disse Irritânia, com um olhar enviesado para Enrolândia.
- É demais! Esses políticos ladrões roubam o dinheiro da merenda e sobra pra nós é? Não! - braba, fala Enrolândia.
- Participa quem quiser, tá?! Meu Deus! - diz Irritânia.
- Nós estamos aqui trabalhando e não fazendo caridade. - irritada, vermelha, os cabelos erissados, fala Enrolândia.
- Já sabemos que você não vai participar. Então, por favor, vamos continuar... Pode ser, gente? - retruca Rigorosina.
- Continue, diretora. Você pensou em quê? - fala Serenalva.
- Bem, vamos falar com as mães e os pais que têm mais condições e com quem a gente puder falar e doar alimentos pra essas crianças. Estou arrasada com tudo isso! Suspiros e a voz embargada de emoção, diz a diretora.
- Oras... Hunf! Olha se vou perder meu tempo com isso... Fico doente com essas coisas! - comenta Enrolândia.
- ESCUTE AQUI, CRIATURA!!! CALE-SE!!! CANSEI!!! POR QUE NÃO VAI EMBORA DAQUI!!!  - berra Irritânia, roxa de ódio, olhando pra Enrolândia.
Todas em silêncio, paralisadas com a situação.
- ESCUTE AQUI!!! FALE BAIXO!!! QUEM ESTÁ FARTA AQUI SOU EU!!! ESTOU CANSADA DE VOCÊS!!! - responde, possessa.
- GEEEENTEEEEE!!! POR FAVOR! PAREM! - grita Chatavânia.
- VOCÊ É UMA MULHERZINHA MUITO BAIXA! QUEM SE IMPORTA COM ESSES TROMBADINHAS DOS INFERNOS?! - berra mais alto, Enrolândia.
- CALE A BOCA E ME RESPEITE, SUA DESGRAÇADA!!! CADELAAAAA!!! VAI TOMAR NO CUUUUU!!! SABE O QUE TE FALTA? UM MACHO PRA TE COMER, SUA FRUSTRADA!!! INVEJOSAAAA!!! - responde, braba, Irritânia.
- É ISSO MESMO!!! INVEJOSAAAA!!! 'TÁ' BOM PRA VOCÊ!!! - grita Chatavânia.
- PAREM! AGOOOOOORAAAAA!!! - grita e levanta-se enfurecida, bate as mãos na mesa, a diretora.
- Minha gente... por favor... me ajudem... estou passando mal... acho... - fala, sôfrega, Pacientina, pálida e trêmula, cambaleando na cadeira.
- GENTE! ELA 'TÁ' DESMAIANDO! - Sonsinilda diz.
Correm para acudir a colega idosa. Abanam. Trazem água.
Enrolândia se aproveita da confusão e sai de fininho. Mas Irritânia vê e pensa em segui-la. Contudo, Rigorosina a impede com um olhar firme e de reprovação.
Lentamente a situação vai voltando ao normal.


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