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A Polícia quer entrar no Condomínio – Siga o regulamento!

A Polícia quer entrar no Condomínio – Siga o regulamento!
Sérgio Pacheco
May. 19 - 7 min read
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Você já pensou em morar em um condomínio fechado e desfrutar dos benefícios dessa possibilidade?

 

Morar em condomínio fechado é o sonho de muita gente, afinal de contas, esse modelo combina privacidade, segurança, conforto e lazer. Isso significa ter um espaço reservado, porém ao lado de uma vizinhança que divide responsabilidades, o que apresenta muitas vantagens. Mas, como tudo nessa vida tem dois lados, morar em condomínio às vezes tem seus perrengues.

 

Essa história se passa num desses condomínios que tinha acabado de ser entregue pela construtora. Eram três torres e para lá de cem apartamentos. Todos os dias chegavam os novos moradores. Aquela sensação gostosa de conhecer os vizinhos, frequentar as áreas comuns, bater um papo na beira da piscina. Afinal, todos ali tinham objetivos de moradia semelhantes.

 

Uns compraram o apartamento visando a criação dos filhos pequenos, afinal a área de lazer e a segurança era o que precisavam. Outros, mais vividos, enxergavam naquele espaço a chance de ter sossego, afinal trabalharam a vida toda, criaram os filhos e agora queriam desfrutar da boa convivência com vizinhos e cuidar da saúde física e mental, seja na academia de ginástica, seja na convivência no bar da piscina, áreas exclusivas dos moradores.

 

Tinham também uma série de apartamentos cujos moradores eram inquilinos. Alguns eram misteriosos, quase não interagiam, outros nem tanto. O local era super valorizado, era só vagar um imóvel e já tinha gente na fila para comprar ou alugar.

 

Aquele condomínio fazia a diferença!

 

O Seu Samuel foi eleito o primeiro síndico. Trabalhava voluntariamente. Para a sorte de todos, era um homem íntegro, servidor público aposentado, tinha o perfil adequado para enfrentar os desafios. Sua missão era fazer a transição inicial entre a construtora e a nova administração, aprovar as regras do regimento interno, montar a equipe de funcionários e implantar a rotina administrativa do condomínio.

 

Foi logo o Seu Samuel, o administrador, colocando em prática seus conhecimentos adquiridos por anos na repartição, resolvendo problemas e gerenciando pessoas. Sabia muito bem como fazer uma pesquisa de preços, uma licitação. Assim, conseguiu os melhores fornecedores e preços do mercado. Conversava pessoalmente com os candidatos para selecionar o quadro de pessoal. Contratou os melhores profissionais. Mas os rapazes da portaria foram uma exceção, esses foram contratados por indicação do zelador. Nesse caso, Seu Samuel cedeu, entregou nas mãos de Deus e do zelador.

 

Os dias se passaram e o condomínio estava quase totalmente ocupado. E com o tempo vieram os problemas, os herdados da construtora e os novos problemas, comuns para uma comunidade daquele tamanho. No condomínio tinha gente de vários perfis. Muitos só reclamavam e exigiam um “síndico profissional”, na ilusão de que era só pagar e tudo se resolveria. Mas poucos participavam das assembleias ou queriam se envolver nas atividades ou resolver os problemas.

 

Um dia desses aconteceu um desses casos desafiadores na rotina do condomínio que merece ser contado aqui. Foi o dia em que a Polícia deu ordem de prisão ao porteiro.

 

O jovem de 20 anos, recém contratado, era sobrinho do zelador, indicado por ele para exercer a função. O rapaz nunca tinha trabalhado nesse tipo de serviço, no entanto era super atencioso e tinha boa vontade de aprender e de fazer cumprir as normas do regimento interno, em especial a norma de entrada de terceiros nos prédios do condomínio.

 

Na sua primeira semana de trabalho, viu encostar uma viatura da Polícia Federal na portaria do condomínio. Os dois homens lá de dentro do carro disseram que receberam uma denúncia, estavam em diligência e precisavam entrar para abordar um dos moradores.

 

O porteiro cauteloso pediu, então, a identificação dos supostos agentes, mas não foi atendido. Sendo assim, eles ficaram do lado de fora, impedidos de entrar, como mandava o regimento interno.

 

Foi aí que começou o maior bafafá!

 

Um dos agentes foi logo perdendo a paciência, saiu do carro e deu ordem de prisão ao jovem. O rapaz hesitou entrar no veículo e, desesperado, começo a pedir ajuda. Então foi avisado de que se não fosse para delegacia, iria responder por resistência à prisão.

 

Acudiu logo o zelador, “pedindo pelo o amor de Deus” para os agentes não levassem o sobrinho. Desceu o Dr. Heleno, advogado do 705, e os rapazes da torre A, que também trabalhavam na Polícia, um na Civil e o outro na Militar. A comoção foi geral, estava feito o furdunço! O maior bate boca. Até que alguém mais sensato falou mais alto: “chama o síndico!”

 

Mas não teve jeito. Na truculência, os policiais algemaram o porteiro e o conduziram para o interior do veículo. Em lágrimas, o frágil rapaz já estava pronto para ir para a cadeia, quando acudiu o “Seu Samuel”, que chegava correndo no condomínio.

 

O experiente sindico esclareceu que o diligente aprendiz estava em treinamento e que somente cumpria o novo regimento interno. Ademais, desfilou com palavras em tom sereno e altivo para as autoridades, caso precisassem entrar na residência para investigar a ocorrência de crime e não tivessem um mandado judicial, deveriam registrar a autorização do morador, como forma de não deixar dúvidas sobre o seu consentimento.

 

Pôde, então, o sábio síndico, contornar todo caso e o jovem foi solto na mesma hora.

 

Mais tarde ficou-se sabendo que os agentes da Polícia Federal estavam no encalço do “Turco”, o cara boa praça que todo mundo do condomínio gostava. Ele alugava a cobertura da torre B e frequentemente pagava o churrasco para a moçada no bar da piscina. O que ninguém sabia é que o vizinho oculto se chamava Hussain Muhammad, cidadão bengalês – um grupo étnico que vive entre a Índia e Bangladesh. Segundo a polícia, o tal de “Turco” era mesmo um chefe de esquema criminoso que trazia outros membros da sua etnia para o Brasil de forma ilegal.

 

Na semana seguinte o incidente iniciou-se o treinamento do novo porteiro. O sobrinho do zelador, traumatizado com o episódio, pediu para sair. Disse que nunca mais trabalharia numa portaria.


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