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A cusparada - Crônicas do Bananil

Henrique Palhares
Sep. 20 - 11 min read
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A passos lentos chegou Pequenaldo ao bar de Caxacério.
Entrou e encontrou Ligeirino:
- Ei, rapaz! - falou com sua fala fina.
- Oxi!!! Mas rapaaaaiz!!! Olha quem apareceu! - respondeu surpreso com  garrafas de cerveja nas mãos, Ligeirino.
- Ainda por aqui, né?!
- Que jeito?! Mas ‘tamo’ vivo, né não?!
- Cadê aquele pinguço sem jeito? Aquele ‘caba’ safado? - fala sorrindo, o anão.
- ‘Hômi’! ‘Caxa’ aprontou uma da peste! ‘Tá’ preso! E eu ‘tô’ cuidando daqui sozinho. Pense na correria, meu irmão! - limpa o suor na testa com a mão e o ar de cansaço explícito.
- OXI!!! Preso?! ‘Caxa’ ‘tá’ doido mesmo! - espantado, mas sorrindo, falou Pequenaldo.
- ‘Bicho’, ‘Caxa’ cuspiu na cara do juiz no meio da audiência! Será que é doido?! E já ‘tava’ lascado porque chamou um ‘cabinha’ lá de ‘viado’, e ainda deu umas mãozadas no pé ‘duvido’ do sem vergonha e foi aquela zoada toda! Oxi! Chamaram a polícia e levaram ele…
- Meu irmão! Ri-ri-ri-ri! O ‘bicho’ endoidou mesmo! Que ‘boba’ ele tomou?! Ou cheirou? Aquela peste é azoada demais! Ai, ai, ai… - continuou a ri em seguida, Pequenaldo.
- Olhe, foi bagaceira! Quem me disse foi o Doutor Justiniano que ‘tá’ resolvendo. Ele é ‘advogado’ ‘veio’, conhece muita gente, sabe… É amigo da gente ‘tamém’.
-Sim, pô? Mas por que ‘Caxa’ se azoou com o ‘viado’? Vai me diz. - disse Pequenaldo enquanto se sentavam.
- ‘Hômi’, o que eu sei é que o ‘viadinho’ trabalha no cartório de imóveis e queria ‘diêro’ pra resolver mais ligeiro e ‘Caxa’ disse que de jeito nenhum! Que já tinha gastado muito e nada se resolvia… É um negócio de uma casa que ele tem lá pros lados de Ipioca.
- Sei…
- Aí o safado disse que não ia fazer mais nada ‘tamém’. Oxi! ‘Caxa’ chamou ele de ‘viado ladrão’. E gritou e deu uns tapas na mesa e o ‘viado’ disse que ia chamar a polícia porque levou o nome de ‘viado’ e de ‘ladrão’. Aí já viu… Ele deu uma segura no pé da ‘urêa’ do ‘cabra’!
- Ri-ri-ri! ‘Bicho’ doido da peste! Pavio curto demais! Desde menino…
- Aí… Rá-rá-rá! Chamaram a polícia, os seguranças lá… ‘Caxa’ meteu a cadeira num deles pra lá… E foi cacete! Pra segurar o doido foi serviço!
- ‘Resenha’ da gota! Ri-ri-ri! Essa não era pra hoje não, ‘hôme’!
Ligeirino foi rápido pegar mais cerveja e uns trapos pra servir outros clientes. E voltou.
- E aí, ‘Pequeno’, levaram pro ‘xadrez’! ‘Caxa’ ficou guardado lá por um dia. Depois saiu, no dia seguinte.
- Sim, meu irmão, mas e o cuspe no focinho do juiz, como foi essa presepada? - Pequenaldo serve cerveja pra Ligeirino.
Bebem uns goles.
- Rapaz, chegou o dia da audiência e ‘Caxa’ ‘tava’ até tranquilo. Foi mais o doutor Justiniano e chegou numa hora lá que ele se azoou de novo com a ‘viadage’ do ‘cabra’ lá do cartório, no meio da audiência, e ‘Caxa’ quis pegar o ‘cabra’… O juiz chamou a atenção e foi aquele tumulto e aí se aquietaram. Aí o juiz chamou a atenção do doido do Caxacério… Oxi! Foi pior! Ele cuspiu na cara do homem e chamou ele de safado ‘tamém’… Um policial que ‘tava’ lá prendeu ‘Caxa’ na hora! E levaram ele de novo. Tá lá até essa data!
- ‘Minino’! ‘Resenha’ da porra! Aí ‘tá’ de castigo agora, pra aprender.
- E ‘apois’…
Beberam mais uns goles e Pequenaldo pediu um prato. Ligeirino levantou e foi providenciar.
- Ei, ‘Ligeiro’, será que ele vai ficar muito tempo preso?
- Rapaz, o ‘advogado’ disse que não. Mas já tem uns dias isso.
- Acho que ‘Caxa’ arranjou mais confusão na cadeia. Risos e mais risos.
- Eu não duvido nada! Aquilo ali é ‘azuretado’ demais quando endoida!
- Ele já arranjou tanta confusão na vida que eu pensei que tinha deixado mais…
- Pau que nasce torto nunca se ‘enderêita’…
- É mesmo, né?! Me lembro duma vez que ele arranjou uma briga da peste num torneio de futsal lá da escola onde a gente estudou.
- E tu estudou mais ele foi?
- Foi. O que ‘Caxa’ ‘jogava bola’, ele se metia em confusão ‘tamém’! Já gostava… E era bom no braço! Batia e apanhava que só a ‘gota’ e ‘guentava’ porrada! Meu Deus! O finado Seu Cicéro, pai dele, dizia: eu pensei de ‘tá’ criando gente e não uma onça choca. E o ‘véio’ deu cacete nele! Ali vivia ‘fofo’ de tantas correadas que levava! Pense…
- Ele vive contando essas presepadas por aqui.
- Teve outra que foi no meio da rua, no meio da Festa da Padroeira, de noite… Deu uns ‘cacete’ em dois lá: no finado Galegão e no irmão, Caveira.
- Caveira? Por que era feio demais?
- Não, magro que só um ‘fi’ da peste! Só a roupa caminhando… até hoje é magro. Só a ‘grade’! Eu vi essas brigas. Eu gostava de ‘tá’ mais ele porque ele me defendia. ‘Caxa’ sempre foi gente boa demais!
- Isso ele é. Eu ‘tô’ aqui ‘trabaiando’ mais ele faz tempo. Ele sempre me respeitou e respeita todo mundo. Mas quando se azoa, meu irmão…
- Vira-se na peste!
- Aqui mais ele já vi zoada! Oxi! Ele já botou vagabundo pra correr daqui na base do 38 e da ‘lapada’ ‘tamém’!
Risos.
- O ‘bicho’ num tem jeito não! Já, já ele aparece por aqui de novo. É duro na queda!
E a ‘resenha’ seguiu…
Três homens entram:
- FALAAAA AZULINO MEIA SOLA!!! - chega falando alto e assustando Ligeirino, Hilariano.
- QUE SUSTO! - falou Ligeirino, com a mão no peito.
Hilariano abraça-o e faz um cafuné após tirar o boné do CSA da cabeça de Ligeirino.
- Saaaaiiiiii, ‘nêgo’ sem vergonha! - fala, rindo, Ligeirino, e querendo se soltar do amigo.
- RÁ-RÁ-RÁ!!! - Hilariano ri e segura mais firme.
- Vai, ‘Pequeno’, puxa a pistola e dê um tiro nesse safado! Me solte, seu viado! - fala Ligeirino.
Pequenaldo ri. Os outros dois também.
- Cadê aquele ‘pé de cana’ mentiroso? - fala Hilariano.
- ‘Hôme’, sei não! Acho que ‘tá’ preso. - diz Ligeirino.
Risos.
- Bota uma pra nós! Este é Frouxino e aquele ‘tamborete’ ali é Miudirânio o Mindinho. - diz Hilariano.
- Opa! Tudo certo? São amigos deste ‘maleta’ são meus amigos ‘tamém’. - falou Ligeirino.
- Deixe contar a ‘resenha’! - fala entusiasmado Hilariano.
- Fala aí… - Ligeirino diz.
- Rapaz, a gente tomou umas ontem. Pense… desde cedo. Menino, foi ‘cana’! Aí tava anoitecendo e chamei esses ‘cabas’ pra gente ir lá pra Maragogi.
- Esse ‘bicho’ tava ‘bebo’ cego. - falou Miudirânio.
- Só eu? Olha só!
- Sim, escutem. Aí nós pegamos a pista ali por Massagueira. Aí tem aqueles quebra-molas num é? Rapaz, eu tava ‘bebo’ demais! Fui ultrapassar um ‘fi’ da peste dum motoqueiro – eu acho que era um motoqueiro?! – risos – quando eu vi, rapaaaaiz, páaaaaaa!, bati na traseira dum carro, sei lá que porra foi aquilo!
- Quando eu desci eu vi uma ‘mulé’ saindo toda suja de sangue, ela tava gritando e vindo pra cima de mim, ‘bicho’!, saí correndo! Doido!
Risos e apreensão por parte de Ligeirino e Pequenaldo.
- O ‘Negão’ sumiu virado na ‘gota’! Eu olhei pra os lados e cadê? Virou fumaça! - disse Frouxino.
- Ôoo ‘caba’ macho! Pense! - disse Ligeirino, fazendo troça.
- Mas você não sabe da maior: Miudinho saiu correndo também em direção oposta.
- Eu saí do carro e vi o ‘Negão’ fugindo e ao mulher saindo do carro mais o homem, eu sai correndo como se estivesse fazendo cooper. - disse Miudinho gesticulando como se estivesse correndo.
- Eu fiquei, né. A mulher toda suja de sangue veio pra cima de mim, mas sabe o que era? Não era sangue não. Era açaí. A mulher tava comendo açaí e quando o carro bateu, virou a tigela por cima!
Risos e mais risos.
- Que presepada! - falou Pequenaldo.
- Homem, foi demais! Eu tremendo! O homem veio pra cima também… Quando  eu vi, Miudinho, não tinha sumido? - falou Frouxino olhando pra Ligeirino.
- Foi.
- Ele apareceu na garupa de uma bicicleta. Desceu e o homem com a bicicleta foi embora.
- Eu peguei uma carona e voltei pra ver o que tinha acontecido. Risos – disse Miudirânio. - Rapazes, quando eu vi esse aí – apontando para Frouxino – com os braços ‘alevantados’, o homem e a mulher imprensando ele… Eu me virei e voltei correndo… - fingindo que estava correndo.
Risos e mais risos.
- E eu lá. - com os braços erguidos, Frouxino simula a situação - Quando vi, um guarda e depois outro. Pronto! - respirei fundo e pensei: vou preso agora e vou levar a culpa sozinho. AAAAAh…
Aí eu disse ao primeiro guarda – estendendo os braços – pode me prender, tremendo, pode levar! - balançando a cabeça para os lados, negando. - Eu já estava me vendo na cadeia e pensando no que fazer e se mamãe soubesse?
Risos, risos e mais risos.
- Oxi?! E aí? Os ‘hômi’ te prenderam? - perguntou Ligeirino.
- Os guardas e o dono do outro carro, tranquilos, disseram: não rapaz. Nós não viemos prender ninguém não. O senhor está bem? - Frouxino murcha os ombros e sopra – Meus amigos, eu chega respirei aliviado.
Risos.
- E eu voltei de novo. Agora na garupa de uma moto. - risos, falou Miudirânio.
- Oxi?! Que peste foi isso? - Ligeirino disse e sem entender.
- Homem, esse ‘macho’ retornou de novo, agora numa moto, de carona. - explicou  Hilariano.
- Eu voltei pra ver o que tinha acontecido. Rá-rá-rá. - completou Miudirânio.
- Rapaz, esses ‘valentes’ me deixaram lá e eu tremendo mais que vara verde! Foi demais o susto! Os ‘caras’ foram ‘legais’ demais! Aí eu fui me acalmando… - falou Frouxiano.
- Depois ele me ligou. Eu tava escondido num matagal pra lá, no escuro. Susto da porra! - risos, falou Hilariano.
- Esse ‘Negão’… - disse Ligeirino, balançando negativamente a cabeça.
Eles foram se sentar na parte externa do bar e Ligeirino voltou à rotina.


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