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A cor de seu corpo é puramente branca! E o chouriço deles, eu chamo de linguiça.

A cor de seu corpo é puramente branca! E o chouriço deles, eu chamo de linguiça.
Sérgio Pacheco
Mar. 25 - 5 min read
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A palavra “católico” vem do grego kata (junto) e holos (todo), isto é: universal, que abrange tudo e reúne a todos.

Quem é católico, como eu, e já teve a oportunidade de viajar e assistir a Santa Missa, ou Celebração Eucarística, em outros países, já deve ter ficado em choque como eu fiquei. Nesses episódios me aproximei ainda mais de minha identidade universal, globalizante.

Os rituais das celebrações são idênticos em qualquer parte do mundo católico, o mesmo evangelho do dia é lido em todas as igrejas. Até o “abraço da paz” faz o mesmo sentido, seja em italiano, inglês, espanhol ou alemão.

Hoje é sexta-feira, tempo da quaresma, o período litúrgico de preparação para a Páscoa. Nesse dia da semana, a tradição de não comer carne vem para “honrar” o sacrifício que Cristo fez.

Dia de trocar o hamburguer pelo peixe!

Quando pequeno, lá em casa, a mãe se esforçava e dava um jeito de buscar a sardinha. A gente a comia bem frita, com espinha e tudo! Se engasgasse, a mãe enchia a boca da gente com farinha! Todos vão bem, obrigado.

Por mais paradoxal que seja, um dos efeitos da globalização é reforçar nossas identidades culturais. Acho que, por estarmos cada vez mais perto das pessoas, conectados “on line” com o mundo todo, podemos perceber que somos desiguais.

A culinária portuguesa é um exemplo dessa diversidade. Por lá, a tradição de comer o bacalhau na quaresma faz parte da cultura e da gastronomia pelo menos desde o século XIV. Durável e acessível a uma parte da população que raramente podia comprar peixe fresco, seu sabor era mais agradável do que o de outros pescados salgados. Eram tempos difíceis aqueles! Hoje, o português é o maior consumidor de bacalhau do mundo. E ele, o peixe, é considerado o “fiel amigo”.

O bacalhau verdadeiro é largo e alto, com lombos bem grossos. A cor de seu corpo é puramente branca. Receitas para deliciar não faltam. Quando tive a oportunidade de estar em Lisboa experimentei algumas dessas iguarias.

Bacalhau à Brás (bacalhau desfiado, batata palha frita, cebola frita às rodelas finas, ovo mexido, azeitonas e salsa picada). Bacalhau Espiritual (que inclui, também, leite, ovos, farinha de trigo, cenoura ralada, manteiga, azeite, queijo ralado, coentros picados, noz-moscada e sal e pimenta). Chetnim de Bacalhau (entre os restantes ingredientes, contam-se banha, cebola, açafrão, pimenta-do-reino, leite de coco e malaguetas). Bacalhau à Lagareiro (é um bacalhau do lombo, assado, de preferência nas brasas, com batatas e cebolas também assadas e regado com bom azeite). Bacalhau à Minhota (postas de bacalhau polvilhadas com pimentão e fritas em óleo). Tiborna (assados no borralho e regados com o azeite). Bacalhau à Gomes de Sá (esse, quase todo brasileiro conhece). Bacalhau Assado com Batatas a Murro (não precisa nem explicar), entre outros.

E tive o prazer de ser convidado para jantar na casa de uma família portuguesa, com certeza. “Trem” difícil de acontecer. Me sentia um privilegiado. Lá comi um delicioso “Bacalhau com Natas”. Um dos melhores. Bebemos muito vinho e falamos sobre a rivalidade no futebol entre o Sport de Lisboa e o Benfica. Mas, o melhor bacalhau que comi nas terras portuguesas foi o tal de “Bacalhau com Broa”, lá no hotel “O Vicente”, na Serra da Estrela. Esse foi sem comparação. Na janela lateral do hotel dava para avistar os morros cobertos de neve na Serra da Estrela. Tudo isso a mais ou menos três horas de Lisboa.

Já o prato lusitano mais difícil de comer foi a sardinha assada na brasa. Eles não retiram as tripas, nem as escamas. Aí, tem que comer com o maior cuidado, para não ficar com gosto amargo. Ainda aprendo.

Outro dia eu me aventurei a preparar para os amigos lá na “terrinha” uma comida de Minas, o famoso “feijão tropeiro”, tipo aqueles que têm lá no estádio do Mineirão. Para tentar mostrar a minha diversidade cultural num mundo globalizado.

Uma amiga cedeu a cozinha, pois o meu apartamento era pequeno demais. O feijão não foi problema, fui logo comprando o “encarnado”, quase um feijão mulatinho. Não podia deixar cozinhar muito. Alho e cebola você acha em todo lugar. A couve já veio picada do supermercado, o “Continente”. Tudo fininho, embalado no saquinho.

O melhor mesmo é a qualidade das carnes e do bacon de lá. E a linguiça então? O chouriço deles, eu chamo de linguiça (e tem uma outra linguiça que eles chamam de linguiça mesmo). O arroz branquinho, bem soltinho. E encontrei a farinha de mandioca! Chega importada do Brasil. Coisa chique! Bife de porco acebolado e um “zoiúdo” por cima.

O melhor tropeiro que já comi na vida foi eu quem fiz! Da melhor qualidade. Bom demais da conta.

A cachaça, eu trouxe do Mercado Central de BH. E fui logo dizendo para eles: não me venham misturar com limão, o gajo! Pinga boa a gente toma é pura!


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