quando criança
eu costumava brincar
com a filha da dona rita.
no esconde-esconde,
nos enfiávamos dentro do armário
e aproveitando a proteção
daquele pequeno, temporário,
mas nosso
universo,
nos tocávamos.
a segurar a mãozinha dela, eu sussurrava
pega, pega nele
e depois retribuía a carícia
pegando, a pegar nela.
quando fomos afinal flagrados,
eu estava com o rosto entre as perninhas dela,
ela com a calcinha arriada,
que gemidinhos eram esses
vindos de dentro do armário?
afastados pelos adultos, perdemos contato,
nos olhávamos de longe,
a alimentar pensamentos.
vinte anos depois,
reunidos pela internet,
recordamos os dias no armário,
rimos, disfarçando o desejo
que não havia passado.
combinamos um encontro,
que terminou na cama.
- o piru que eu trazia na lembrança,
ela comentou, enquanto segurava
e admirava
o pau que logo depois colocou na boca,
- não era tão grande.